O Canto dos Trilhos
A aurora que outrora fascina hoje é rotina. Saio descabelado pelos vícios que o dia a dia esconde, tenho a penumbra de um sono mal dormido, ou um sem números de preocupações, que me assombram no tique e taque cardiaco da sobrevivência. Estou na ponta da linha dividindo esperança com quem jamais conheci. Me espremo em bafos cansados do dia que começa com os saculejos entre estações. Nas costas não carrego só a marmita, mas o cansaço dos dias subsequentes de uma vida que estoura em agonia e se desenrola numa passividade incoerente com meus princípios e sonhos. Os olhos custam a ficar abertos. Falta apenas uma estação e no caminho, na última curva, os trilhos gritam desesperados. Um grito que aflige a mais serena das almas, corta o peito através dos tímpanos que despertam do inconsciente o trabalhador que estava, em pesnamento, numa praia com altas ondas rolando. Um fugitivo de si mesmo. Desembarcado pelas almas que ao contrário dos corpos não se tocam, desperto para a realidade da labuta