O Canto dos Trilhos
A aurora que outrora fascina hoje é rotina.
Saio descabelado pelos vícios que o dia a dia esconde,
tenho a penumbra de um sono mal dormido, ou um sem números de preocupações,
que me assombram no tique e taque cardiaco da sobrevivência.
Estou na ponta da linha dividindo esperança com quem jamais conheci. Me espremo em bafos cansados do dia que começa com os saculejos entre estações.
Nas costas não carrego só a marmita, mas o cansaço dos dias subsequentes de uma vida que estoura em agonia e se desenrola numa passividade incoerente com meus princípios e sonhos.
Os olhos custam a ficar abertos. Falta apenas uma estação e no caminho, na última curva, os trilhos gritam desesperados. Um grito que aflige a mais serena das almas, corta o peito através dos tímpanos que despertam do inconsciente o trabalhador que estava, em pesnamento, numa praia com altas ondas rolando. Um fugitivo de si mesmo.
Desembarcado pelas almas que ao contrário dos corpos não se tocam, desperto para a realidade da labuta. O tique e taque, agora do relógio, viaja em camera lenta até o por-do-sol com pausa apenas para esvaziar a quentinha que eu mesmo tenho de lavar.
Saio apressado pensando na aula que vou encarar, olhos de lince no busão que vai me levar, corro pra pegar, corro pra sentar, corro pra estudar aquele pedaço de texto que vamos abordar. A academia ameniza o ar, é pensamento progressivo que domina o cenário, é conhecimento caro que venho comprar e amizades sinceras posso desfrutar. Abaixo o coleguismo falso do trabalho pela sobrevivência! Queremos vingar o sofrimento que dá ver a vida passar em dias de luta, com uma conversa aberta, despudorada.
O mestre confere quem veio aprender e a dispensa me faz sorrir aliviado pela primeira vez no dia.
Saio devagar, passos de fome que vão encontrar uma recompensa real no lar doce lar. Estou de novo na imensa cobra de metal que corta as ruas, riscando com luzes o cenário paulistano cercado pelo breu da meia noite. Os olhos custam a ficar abertos. O caminho mais longo faz a mente trabalhar, desta vez em projetos de vida pra ela melhorar.
Falta apenas uma estação e na curva que deita o vagão os trilhos cantam a melodia fina e preguiçosa do final do percurso. Canto com ela a vitória que tardia, o corpo esfarela-se de alegria e cansaço, embora este cansaço esteja repleto de satisfação.
No horizonte limiar da minha cama penso no que deixei de fazer e me prometo que farei assim que o dia amanhecer. O descanso do guerreiro penetra um sonho bom, prenuncio de uma noite bem dormida. No fundo musical escuto com a mente embaralhada: "Valeu a pena ê ê, valeu a pena ê ê, sou pescador de iluuusss....."
Saio descabelado pelos vícios que o dia a dia esconde,
tenho a penumbra de um sono mal dormido, ou um sem números de preocupações,
que me assombram no tique e taque cardiaco da sobrevivência.
Estou na ponta da linha dividindo esperança com quem jamais conheci. Me espremo em bafos cansados do dia que começa com os saculejos entre estações.
Nas costas não carrego só a marmita, mas o cansaço dos dias subsequentes de uma vida que estoura em agonia e se desenrola numa passividade incoerente com meus princípios e sonhos.
Os olhos custam a ficar abertos. Falta apenas uma estação e no caminho, na última curva, os trilhos gritam desesperados. Um grito que aflige a mais serena das almas, corta o peito através dos tímpanos que despertam do inconsciente o trabalhador que estava, em pesnamento, numa praia com altas ondas rolando. Um fugitivo de si mesmo.
Desembarcado pelas almas que ao contrário dos corpos não se tocam, desperto para a realidade da labuta. O tique e taque, agora do relógio, viaja em camera lenta até o por-do-sol com pausa apenas para esvaziar a quentinha que eu mesmo tenho de lavar.
Saio apressado pensando na aula que vou encarar, olhos de lince no busão que vai me levar, corro pra pegar, corro pra sentar, corro pra estudar aquele pedaço de texto que vamos abordar. A academia ameniza o ar, é pensamento progressivo que domina o cenário, é conhecimento caro que venho comprar e amizades sinceras posso desfrutar. Abaixo o coleguismo falso do trabalho pela sobrevivência! Queremos vingar o sofrimento que dá ver a vida passar em dias de luta, com uma conversa aberta, despudorada.
O mestre confere quem veio aprender e a dispensa me faz sorrir aliviado pela primeira vez no dia.
Saio devagar, passos de fome que vão encontrar uma recompensa real no lar doce lar. Estou de novo na imensa cobra de metal que corta as ruas, riscando com luzes o cenário paulistano cercado pelo breu da meia noite. Os olhos custam a ficar abertos. O caminho mais longo faz a mente trabalhar, desta vez em projetos de vida pra ela melhorar.
Falta apenas uma estação e na curva que deita o vagão os trilhos cantam a melodia fina e preguiçosa do final do percurso. Canto com ela a vitória que tardia, o corpo esfarela-se de alegria e cansaço, embora este cansaço esteja repleto de satisfação.
No horizonte limiar da minha cama penso no que deixei de fazer e me prometo que farei assim que o dia amanhecer. O descanso do guerreiro penetra um sonho bom, prenuncio de uma noite bem dormida. No fundo musical escuto com a mente embaralhada: "Valeu a pena ê ê, valeu a pena ê ê, sou pescador de iluuusss....."
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