Adeus Crepúsculo de Aço!

É infinitamente pobre olhar para as meninas em qualquer lugar e perceber que elas são quase todas iguais. Ver um rosto tentando ser igual ao de uma revista em uma pessoa que não tem nada a ver com aquela moldura me entristece um pouco. É perda de identidade cultural, é a padronização de um povo que daqui a alguns anos não terá mais opção, serão o que se transformaram, um mar de cabelos lisos engomados incapazes de fazer vibrar a mais tímida diferença racial. Em São Paulo ou nas principais cidades do país não existe mais o cabelo crespo, pelo menos não fora das casas, é o fim do crepúsculo de aço!
Quando lembro da minha infância penso logo na Don’ana, uma empregada que tínhamos que chegou da Bahia especialmente para trabalhar em casa. Ela era linda, o corpo negro de uma anatomia ímpar, a boca carnuda com lábios projetados como um biquinho e o cabelo, bem o cabelo era de negra de verdade, ou seja: duro espichado. Percebia que isso não a incomodava, no entanto não dá pra avaliar, pois naquela época não tinha nem xampu especial para ela, era sabão de coco que ela usava na Bahia e quando chegou, xampu normal mesmo.
O tempo foi passando e o cabelo crespo foi sumindo. Não é só negro que tem cabelo ruim por aqui. Tem muitas branquinhas que se entregam ao martírio de uma rotina de puxa daqui, estica pra lá e “pronto, agora posso sair do banheiro”. Mas as negras são as que mais me entristecem, pois como se não bastassem ter aquele cabelo completamente transformado, ainda pintam eles de louro! Valha-me Deus, me ajude!
Não quero parecer demagogo dizendo que os lisos não são mais bonitos, mais macios e gostosos de cheirar e pegar, falo exclusivamente de diferenças. Para mim tudo tem seu valor. O peito grande e o pequeno, a bunda grande, a achatada, a perna roliça e a afilada representam exatamente a possibilidade de sermos felizes com o que temos. E pelo rumo que tomou o cabelinho padronizado delas, daqui a alguns anos, não teremos opção.
A lourinha de cabelo “bom-bril” se entrega na primeira curva. O pescoço não vira e o cabelo parece um mar feito de pedaços de retalhos grudados com super-bonder. As negras que acertam na chapinha e mantêm a cor, isso é muito importante, quase passam desapercebidas de tanta moda que virou o negócio, mas é fato, ela malha o cabelo todo dia. Que sacrifício! Que suplício! Acorda com o cabelo todo amarrado, em seguida solta cada pedaço esticando com uma escova de aço e um secador na mais alta temperatura e para concluir gruda nele um ferro quente que vai e vem, a famigerada chapinha. “Ufa, agora posso sair do banheiro”, ou melhor, agora o pai pode entrar e dizer “nossa valeu a pena toda essa demora” e nem se dá conta que aquela não era sua filha como nasceu.
Agora o pior de todos são aqueles que nem são tão ruins, mas um pouco armados (Porque elas os deixam compridos?) e são empapados por uma gosma com cheiro duvidoso que fica molhado o dia inteiro. Putz! , não dá! No metrô fujo deles que nem o diabo da cruz, se encostar fica aquela mancha e o cheiro o dia todo! É horrível!
Esse texto é um apelo. Quero fazer com que as pessoas pensem sem a mente global que todos insistem em ter, sem a mania de padronizar a estética, sem a falsa imagem de ser o que não são e principalmente não deixem morrer uma identidade cultural que há milênios ditam as diferenças entre elas. Meninas, façam o favor, mantenham-se diferentes, cada uma com sua alegria de viver é melhor de se ver!

Comentários

Andso disse…
Texto com cunho social...nobre atitude!!!

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