Contrastes...

Dormir e acordar, despertar para um mundo só seu em pensamentos suaves e distantes. Eu não estava ali. Só sentia um ambiente estranho, como se não conhecesse minha própria cama. Como se tudo ao redor fora modificado para sempre, mas dentro de mim não fora.

Foi assim: ontem o calor me sufocava e o lençol não dava conta do suor. Minha alma estava leve e poderia ser levada por uma brisa. Eu abri os olhos e já era dia. Me levantei, mesmo cedo demais, e abri todas as portas e janelas. O cheiro é instantâneo. A relva resplandecente me abraçava como a um irmão. Um sorriso brotou antes dos dois olhos se abrirem.


Ao longe o rio corria tão mansamente que podemos dizer que ele andava, sereno e calmo. Mas ao seu redor uma turba eufórica se atacava feito um carnaval a busca de alimentos. Os pássaros gorgolejavam em tons, intensidades, e timbres diferentes. Altos, concisos, disputando cada ouvido que se atinasse para a sinfonia. Eu estava realmente lá. Em tudo, a maresia, o cheiro de mar era onipresente.



Hoje custei a acreditar. Frio de janeiro, meio molhado, meio sem vento, mas aquele frio pessoal, que se sente em negação, sabe? Frio. A chuva inaudível se fazia presente nos pneus incessantes que cruzam a avenida em frente. Sequer o cheiro dela era perceptível, apenas sua incômoda e úmida presença.

Nem o meu Franjinha está aqui para cantar e me confundir, meu canário passou nossas férias na casa dos amigos com meu sogro, saudades dele também. Prevalece o som das televisões, uma para cada pessoa, cada qual no seu infinito particular e eu tenho certeza que não sou daqui. Sou dessas pessoas, mas não sou daqui.

Estou aqui, mas trouxe de lá toda minha essência, um caldinho que, se você tomar, vai estar me experimentando, Concentrado, leve e saboroso. Eu preciso apagar os contrastes da minha vida para sobreviver. Viver das minhas paixões, me apaixonar por alguém, por uma onda, um lugar. Isso tudo sem precisar fugir, apenas voltar.

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