O Quarto Mundo – Violência Urbana

A violência urbana nas grandes capitais brasileiras nos leva a refletir sobre os motivos e o futuro dessa balbúrdia. O ano de 2006 em São Paulo foi marcado pelo pânico em maio, depois em agosto com outro ataque coordenado dos criminosos seguido de algumas rebeliões em presídios. Na virada do ano foi a vez do Rio e Espírito Santo sofrerem com a ameaça incendiária do crime organizado. E, no Rio de Janeiro, os bandidos não deixaram os civis desembarcarem do ônibus antes de atear fogo. Morte estúpida, morte política.
A cada atentado do chamado novo terrorismo a cidade se acostuma, aprende a conviver com mais um absurdo patológico social e rapidamente se esquece. No entanto, os políticos sabem que essa é apenas uma ponta do imenso iceberg que rodeia os países periféricos, especialmente aqui na América do Sul. E o degelo da necessidade latente de um povo que não tem mais por onde sobreviver inundará não só as capitais do país, mas todo o continente. O que não tem mais como esconder é que os motivos que movem as ações criminosas, que são uma novidade antiga como eram as máfias italianas, têm agora um motivo político para agir. Em São Paulo foi declarado: “votem no PT” dizia o PCC. No Rio rumores delatavam a vontade de que o Secretário de Segurança não fosse substituído, e por ai vai.
Os pedaços picados dessa história que já está quase banalizada por causa da mídia, e sou mídia também, escondem talvez que os bandidos organizados são o retrato radical da periferia urbana. Não tem muita diferença o cara que rouba e o cara que levanta cedo pra trabalhar e mora no mesmo prédio dos conjuntos habitacionais do gueto. Eles são gente da gente, e se olham, e se respeitam mutuamente como vitimas do sistema. Não tem treta. O trabalhador então que na hora que é roubado não vê policia e na hora que vai pra casa não vê bandido pensa que quem o protege? Quem lhe dá segurança? O policial fardado e distante, ou o bandido vestido igual e próximo? Essa confusão acontece comumente nos centros urbanos, e sabemos que a polícia no geral está bem intencionada sim, mas também, que defende interesses escusos da burguesia blindada do outro lado da cidade.
Deste pensamento podemos concluir que não há soluções mágicas para o que acontece no Brasil, pois o problema é histórico social, e inclui não só o criminoso excluído e incluído pela força, mas também o trabalhador que compõe quase 80% da população. Aparecem nomes que por enquanto são ídolos dos bandidos como os Marcolas da vida que articulam com “inteligência” os ataques ao Estado. Quando essas pessoas perceberem que podem conquistar essa faixa esquecida da população e lhe darem um motivo mais amplo para protestar teremos uma revolução, armada se for o caso, e essa sim terá propósito social de melhora. Os interesses vão ser da maioria e ai ninguém segura.
Este fenômeno está acontecendo nas caladas de todos os países que estão cada vez mais achatados pela globalização da economia, que continua transferindo poderes às instituições de fachada que, por sua vez, dizem atender ao equilíbrio mundial e na verdade são fantoches do G8 que não quer dividir. O neo-terrorismo passa a ser simpático, a idéia de uma sociedade menos desigual afeta os que nasceram para sustentar a burguesia que aprendeu a segurar a tampa da panela de pressão com seus benefícios ilusórios e sua corrente dourada de união para não faltar champanha, e afrouxam o bico quando a panela ameaça explodir.
Mas os indícios de que essa panela está preste a dar defeito no bico estão aparecendo sob protestos no Chile e Argentina e aqui pelas mãos dos bandidos. Bandidos são reflexos dos bandidos do Planalto Central, só que sem ninguém por eles. Formamos assim o quarto mundo, o que está pra lá da periferia da economia mundial, o que está acostumado a ser escravo do capitalismo e sustenta o Faraó da pirâmide de vidro. Quando o Marcola souber que lendo outros livros poderá mudar o mundo viveremos sob a ameaça dos países que ostentam bombas atômicas em jornais do mundo inteiro e a guerra, ferramenta de desilusão, virá para apagar esse pedaço da história e começar a escrever outra.
Resta a esperança de uma mente realmente unificadora para fazer do mundo um lugar bom para se viver, mesmo que tenhamos de morrer para ceder o espaço.

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