Cheiro de gafe no ralo do cinema...

Ganhei um convite para ver a pré-estréia do novo filme de Selton Melo, O Cheiro do Ralo no famoso Espaço Unibanco em plena Rua Augusta, berço da cultura cool da cidade de São Paulo. O aspecto glamouroso do local, infestado de “personalidades” influentes na sétima arte e, claro, de jornalistas que levam um pouco de glamour para fora do Espaço, é um ambiente perfeito para um salto na minha alma artística, mas também, um local perfeito para uma gafe, essa muito mais fácil de acontecer, e aconteceu.
Tudo ia muito bem, começou com um encontro inusitado com Arthur Veríssimo, repórter da revista que acompanho há pelo menos dez anos, a Trip. Quando o vi pela primeira vez na Avenida Paulista, foi difícil controlar o nervosismo, pois tinha admiração pelo seu trabalho, coisas de fã descabeçado mesmo. Ali não, fiquei tranqüilo, falei com ele sobre o colunista Luiz Mendes, ex-prisioneiro e hoje escritor que também admiro bastante, peguei seu e-mail pessoal e falamos sobre sua próxima aventura, que, aliás, está nas paginas da revista de maio.


As Estrelas.

Quando o hall estava quase lotado chegaram as estrelas da noite: Selton Melo, Paula Braun e o diretor Heitor Dhalia, entrevistados e filmados constantemente. Entre uma tietagem de cá outra de lá, fui de novo como fã e repórter falar com o Selton, e o cara meio que sem ser antipático, meio que sem ser simpático, disse apenas um “É, meio que ali com o... e o ...” para uma pergunta minha que levou horas para ser elaborada. Mas até ai tudo bem, pré-estréia, não me apresentei como repórter, essas coisas acontecem.
Tudo prontíssimo para a sessão. Na platéia, famosos como Nasi, Rick Werneck e outros que não me lembro o nome, o cinema lotado.
A história do filme é engrassadíssima, no entanto uma parte dele fala da sujeira da alma humana. Um homem obcecado por três coisas, melhor, duas coisas e uma bunda. São elas: o cheiro do ralo, nome do livro e do filme, um olho de vidro que ele empenhou e o transformou no olho do pai que sequer conheceu e a bunda, que era de uma garçonete interpretada pela bela Paula Braun. Os outros ele tinha consigo, mas a bunda estava distante, fixava seus olhos nela apenas alguns minutos de seu extenso dia enquanto fingia que comia um lanche.

A gafe.

Ela foi se aproximando aos poucos, um dia sem querer querendo, ele fez a proposta indecorosa à moça. Disse que por quinhentas pratas gostaria de ver sua bunda. Ela que estava se apaixonando por ele recusou-se terminantemente até que um dia não trabalhava mais na lanchonete. Alguns dias depois ela reaparece precisando do dinheiro e ele enfim teria seu triunfo.
O cinema ficou mudo. As pessoas, tanto quanto o personagem, aguardavam ansiosamente pela visão reconfortante da bunda bonita da loura. Eis que nesse momento de silêncio e reflexão meu pequeno e quase inútil celular toca. Entre o susto e a vergonha e entre as bufas reclamantes dou um jeito de pegar rapidamente o celular e o coloco discretamente na orelha e escuto: “O Alberto foi eliminado”. Na tela Selton Melo no papel de Lourenço chorava abraçado à bunda e eu me perguntava, por que? Por que, meu deus?
Nesse ínterim, percebi um choque entre cultura e violência televisiva. O BBB7 entrava na minha vida por uma gafe que não quis cometer, mas por ter me dado o infortúnio de acompanhar o programa aconteceu. Minha mãe só queria me dizer que o odiado participante do BBB fora eliminado, me deixando assim, a par de um assunto totalmente irrelevante tanto para minha vida, quanto para minha evolução quanto ser humano. Por outro lado encontrava respostas para perguntas inquietantes provenientes da história que o filme revelava.
Assim, terminei minha noite de gafe e glamour. Pagando o mico da noite e aparecendo da pior forma aos meus futuros colegas jornalistas e artistas, fazendo de uma oportunidade um fiasco que deixo aqui registrado.

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