A cidade nua

Chove na capital paulistana e a noite brilha.
Um cigarro, um sorriso, um jeito cambaleante de ver a cidade se encolher.
Toda melancolia da chuva invade os pulmões em mais um trago.
Me vejo de repente num filme nacional.
Sinto sede do sexo, cheiro do álcool, volúpia da embriaguez.

Todos os cantos da cidade pulsam sob o sábado de novembro.
Eu fico pensando nas pessoas indo para as baladas.
Também penso na cama molhada do dorme-sujo.
Quantas faces têm São Paulo?
Seu nome de santo é um santo remédio?

Não há prazer na indiferença de toda a diversidade cultural.
Onde esconde o suicídio? A janela será a próxima a atirar um corpo.
Com todo desgosto, com toda mácula enrustida na solidariedade política.
Quantos milhões a cidade tem que gastar para se iluminar
Quantos milhões há nos Jardins, quantos faltam no Ângela?

São todos os impérios que quero revogar,
Passei anos tentando um refúgio, mas agora quero voltar.
Os carros cantam, brigam e dançam e a moto quer passar.
Nos faróis são milhares, são oportunidades que se desfazem na chuva.
Quantas mães não vão acordar?

Queria inspirar a cidade a parar.
Como no canto do Raul, em que ninguém teve motivo pra sair de casa,
Queria entender o que ela muda quer de mim,
Ou talvez o que eu quero lhe dar.
A cidade nua continua a convidar. Ser ou estar depende do ponto que vou olhar.

Comentários

Anônimo disse…
como sempre, adorei!!
Cintia Gera

Postagens mais visitadas deste blog

O homem nasce, cresce, fica bobo e casa. Como se não bastasse, procria.

My Name is not João!

Inauguração em grande estilo!