Finados, saudades de mim também

“Ó morte tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem”

Raulzito.

Lembro do dia da morte do meu avô Oriovaldo. Eu tinha acabado de fazer minha primeira Tattoo e ele era uma das pessoas pra quem eu fazia questão de mostrar. Ele tinha um lado revolucionário e conservador ao mesmo tempo e só sua opinião sobre minha atitude me dariam alicerces verdadeiros para minha filosofia de vida. Não ouvi.

Essa foi a primeira morte sentida da minha vida. Depois minha vó Eneida, a sãopaulina mais fiel que já conheci, torcedora ferrenha que me ensinou dentre outras coisas a amar esse time. Também deixou saudades tão enraizadas que sua força reverbera por todos os atos da família até hoje. Recentemente morreu o Tio Nico. Ele era um símbolo de vida de dedicação à mulher, aos filhos e netos que dificilmente verei de novo.

Quando penso neles penso em minha própria vida. Quantas noites perdi pensando na minha morte, quantos sonhos levei tiros quentes e continuei vivo, esperando sentir dor ou algo que não compreendia, mas isso não aconteceu. Fiquei com medo quando era pequeno e os espíritos vinham me visitar e me falar de coisas que eu podia mudar, mas como? Nunca consegui responder tal pergunta, mas segui meu caminho procurando algo que valha a penas em meio a tantas coisas que julgo importante.

Tenho uma família maravilhosa, uma esposa, uma filha e todos que nos cercam verão sem dúvida meu corpo perecer sobre a impiedosa data da minha partida, mas o que eu quero deixar pra eles? Tenho muita vontade de deixar um legado de bondade e amor, mas faço minha lição de casa? Acho que não tão bem quanto deveria. Acho que ainda preciso aprender mais do que ensinar.

Hoje é feriado, dia da saudade (Raulzito, de novo!) Então reservo esse espaço para ter saudade de mim mesmo. Lembro da minha loucura no colégio em que deixei de seguir a retidão das apostilas e me dediquei a uma ideologia utópica e convincente sobre um mundo melhor. Ela ainda norteia minha vida, mas agora com meus dois pés no chão.

Lembro também das minhas poesias de pequeno. Escrevia as últimas palavras com rima e depois compunha as frases, todo mundo admirava, mas eu achava medíocre, não no sentido pejorativo, mas de mediano mesmo. Hoje escrevo melhor, mas ainda luto com minha falta de tato com coisas reais.

Dia de finados é assim mesmo. Comecei escrevendo das pessoas que se foram e me lembrei do Cassiano que morreu há alguns anos, mas que assim como os outros, continua vivo na minha lembrança e em todas as minha atitudes.

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