Futeboleiro

Separo às vezes este espaço para divagar. Hoje o tema é tão raro por aqui, e tão recorrente na minha vida que fico pensando nesse antagonismo como um mistério. Vou falar de futebol. Como vejo as torcidas e times, e claro, meu próprio futebol nas invariáveis peladas nos finais de semana.

Tudo começou no fantástico campeonato brasileiro de 1986. Nosso time tinha Careca, Muller, Silas, Zé Teodoro e outros que formavam um time de responsa. Entrei em todos os jogos no Morumbi no gramado, de mãos dadas com os ídolos. Na final, no Brinco de Ouro contra o Guarani, eu estava na casa da minha vó, sentado numa cadeira de couro, chorando até os 46 do segundo tempo. O golaço do Careca empatou o jogo em 3x3 e levou a disputa aos pênaltis, vencida pelo Tricolor.




A experiência desse campeonato me fez fanático pelo São Paulo. Fui muito feliz com outras tantas conquistas, mas especialmente na primeira Libertadores da América. Estava lá no Morumba de novo e chorei quando a torcida invadiu o gramado para comemorar essa conquista histórica.

Hoje ainda saboreio o hexa-campeonato brasileiro, mas me incomoda disputar a Libertadores (mais uma vez, claro) com o Corinthians na briga. Ô time chato, ainda mais com o Ronaldo, ô cara chato! Aqui no meu prédio, das 40 famílias 36 são de corinthianos. A vibração balança o prédio. Os gritos de Vai Corinthians enche o saco. Mas é impossível não admitir a força dessa torcida. Nem na segundona deram uma trégua. Comemoravam até lateral a favor.

O Palmeiras hoje, infelizmente é coadjuvante no futebol paulista. Acabou de perder o jogo contra o Rio Claro pelo Paulista, amargando um oitavo lugar na competição. Rodada que teve Santos 2x1 Corinthians, e São Paulo 5x1 Monte Azul (é time, ou marca de sabão em pó?). Só nos resta torcer para que o Palmeiras saia dessa e explico porque. O melhor clássico para se assistir no estádio. Torcidas equiparadas na forma e intensidade dos gritos de guerra. Um verdadeiro espetáculo para os felizardos que estão nas arquibancadas.

Ontem eu marquei um golaço. Recebi um lançamento da esquerda e na saída do goleiro, toquei por cobertura. Engraçado como a jogada fica reverberando pelo cérebro durante toda a semana. Ainda mais para alguém que gosta mais de jogar do que joga de fato. Em qualidade, claro, não em quantidade, porque não falto um único fim de semana.

Só quem joga sabe o quanto o sangue esquenta na quadra. A disputa é real, mas nem sempre é leal. Isso representa a escalada ininterrupta de violência nos estádios, sem distinção de torcida, time ou local. Pode ser aqui, na Europa, no interior, onde for. A rivalidade transforma jovens em gladiadores sem nenhum motivo plausível, apenas as cores do time.

Olhei xingando na cara um amigo de infância outro dia. Empurra daqui, corre de lá e terminado o jogo é só sair da quadra que tudo fica esquecido. Engraçado, né? Mas é real, nos abraçamos e fomos tomar uma cerveja. Por essas e outras o futebol é a magia que regula a emoção do mundo. E, em ano de copa, a dimensão dessa emoção extravasa as fronteiras.

Ruas pintadas, decoradas com as cores da bandeira e outras fronteiras se rompem unindo todas as torcidas. Engraçado também, né? Pois é, assim vejo o futebol, sem nexo, mas com todas as explicações. Quem sabe o evento do Mundial não traz outros textos pra cá.

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