Motoqueiro presidente do mundo

Nas curvas deito minha motocicleta segurando o acelerador sem pensar na minha vida. Ali ela é plena porque guarda cada passo que eu dei, cada vento que meu rosto sentiu.

Nos meus sonhos vejo sempre a mesma cena. Milhares de pessoas num choro coletivo. Toda minoria cabe em mim e me visto de outra pessoa para sobreviver.

Quando vislumbrei pela primeira vez o cogumelo atômico ele simbolizava apenas o fim do mundo. Digo apenas, pois o mundo acaba todos os dias na vida de muitas pessoas. O medo consome tanto quanto o capitalismo tenta suprimi-lo. Medo da doença. Da violência. Da morte.




Tento continuar sem meus sonhos. As pequenas realizações não põem a mesa farta que aparece na televisão. Minhas filhas verão. Tudo se resume a educação. É cultural ser feliz mesmo na opressão. Foram tantas investidas pro sucesso, tantas revoltas resignadas pelo desgosto e a obrigação de ser um sobrevivente. Quanto mais próximo fico de um sonho, mais turvo ele se torna, mais cinza, com um gosto esquisito de fel.

Por isso penso que minha moto é meu sonho em duas rodas. Brilha no sol e responde aos meus comandos, mesmo que um dia me traia e me atire ao chão, está vivo! Mesmo que prove por A + B que destinos são mais fortes que os sonhos, ele existe. Escolhas são escolhas...

Minha fortaleza é minha família. Meus sonhos agora são para ela. Sem buscar nas encruzilhadas um motivo para me arrepender, sigo a estrada sempre atento. Um dia um acalento, noutro um desencontro, mas sempre em frente.

Antes de dobrar a última esquina eu quero ver um sorriso. Um sorriso que despertará o coletivo do sonho cinza e mal sonhado. Descobrirei o véu dos desenganos e verei as minorias diminuídas. Meu braço forte estará sempre em riste, buscando alcançar o céu das possibilidades. O raio de sol que irá brilhar para todos, sem queimar, sem arder, apenas confortar a coexistência mundial. Quero ser presidente do mundo.

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