A ociosa produtividade

Lá fora parece tudo tão calmo, aqui dentro nada acontece. Os dias passam preguiçosamente largados na cama. Os dias. São trezentos e sessenta e cinco no ano, quando não trezentos e sessenta e seis, mas em apenas vinte quero mudar o mundo. São minhas férias, diferentes sempre sendo iguais.

Planejei muitas coisas que poucas fiz e os dias, ah os dias são cruéis. Eles estão fugindo.

Está tudo quase pronto, mas esse quase não desenrola. Às vezes faço cinco dias em um, mas na maioria passam dez que não vale meio. Amanhã vou fazer diferente. Amanhã vou acordar cedo, fazer exercícios, mandar e-mails, entrar no orkut, facebook e twitter, e no msn também. Vou lavar a moto, instalar um alarme, parar só para almoçar e olhe lá. Amanhã, sempre é bom, espero que um dia ele chegue.

Ontem, por exemplo, preferi não sair. Fiquei aqui planejando o hoje, mas tudo foi por água abaixo no primeiro telefonema que recebi. Então, meus planos foram automaticamente adiados por um dia. Nessa, perdi duas semanas. Mas amanhã, amanhã eu farei.

Raul já dizia, “uma vida só se vive e só se usa um sobretudo”. Eu vivi cinco vidas. Essa é minha última chance e depois vem o paraíso, ou o nada absoluto, ainda não decidi. Não posso, de jeito nenhum, morrer amanhã. Tenho muitas coisas pra fazer.

Escrever um livro, editar minha revista, ser um empresário de sucesso, construir na praia, comprar outra moto mais potente, cortar o cabelo, escovar os dentes, levar as meninas na escola, buscar o carro, ligar para um amigo, fazer um site, lavar meu tênis, buscar as camisas do time e entrar para a high society. Tirando a última, o resto é verdade.

Quantos dias ainda me restam? Quantos eu apaguei com o cigarro, as bebidas e another thinks? Os filmes que eu não vi. O livro que leio há dois anos e não terminei. O dinheiro que eu não ganhei, mesmo assim gastei. Quantos dias ainda me restam?

O relógio tickteia na tela e o dia vai minguando, como as férias ociosas que tirei. Hoje vai acabar daqui a pouco, mas amanhã será o melhor dia da minha vida e isso me deixa supertranquilo, sem culpa, sem frustrações ou remorsos. Amanhã.

Quando tudo acabar, vou procurar lembrar todos esses dias como uma folha no dorso de uma formiga. Às vezes é só galho, noutra tem até uma flor. E o dia vai mudar de amanhã para ontem, de eu vou fazer, para eu fiz.

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