José Basileu, se benzeu e morreu
José Basileu era um cara comum, não tanto, é verdade, mas não passava por esquisito. Trabalhava, comia, bebia e rezava. Tinha mulher, três filhos meninos, todos corinthianos, e morava na periferia da periferia. Quase mato, quase asfalto.
De tão longe comprou uma moto para ir trabalhar. Fazia metade do tempo, mas morria de medo. Corredor, só se for largo. Ultrapassar então, só os carrinhos de sorvete na calçada. Mas quando bebia, virava piloto de corrida. Curtia as luzinhas vermelhas brilhando e sendo deixadas para trás. No dia seguinte, se arrependia. Deitava a cabeça penosa no travesseiro fedido pedindo para não mais repetir o abuso. E demorava a aprontar, funcionava.
Sua mulher um dia falou “Zé, cuidado, Zé, você tem três filhos e não vai me deixar sozinha né?” Assim, Zé Basileu, deixou de beber antes de pilotar e voltava tranqüilo para casa. Passava os dias a divagar se devia ou não ficar, filosofava tanto que se perdia sem perceber num pensamento qualquer. Zé oscilava, mas não era bipolar. Sabia bem o que queria, mas não sabia como chegar.
Às quartas-feiras, fazia uma fezinha na mega-sena. Jogava sempre os mesmos números, até que um dia trocou e nada aconteceu. Voltou a jogar nos velhos e seus sonhos foram ficando a cada dia menores. Ele foi encolhendo junto, achando que tudo de ruim acontecia com ele e nada poderia fazer mudar seu destino de pobre, sem sucesso, sem grana nem pro cigarro que ele insistia em fumar.
Na quinta-feira saiu mais cedo do trabalho e planejou uma noite diferente. Queria olhar para a esposa e lhe dizer o quanto a amava, “será que dá para pegar ingressos para o jogo do fim de semana?” O mais novo ainda não tinha ido. Queria comprar esfihas e Coca-Cola, e depois que as crianças dormissem, fazer um amor cheiroso com a “nega”. Mas o destino lhe reservara outros planos.
Ainda com sorriso no rosto José Basileu, ao passar pela igreja perto de seu serviço, se benzeu e morreu. Caiu num buraco que lhe atirou ao chão. Ficou ali estatelado sentindo o sangue encharcar o capacete. Uma luz forte lhe cegou as vistas e tudo ficou escuro. Um homem se aproximou e buscou seu celular no bolso, estava tocando. Era sua mulher, ela ouviu e chorou.
Junto com o celular o homem encontrou um bilhete. Os números foram sorteados, mas ele devolveu à viúva. Ela mandou ampliar uma enorme fotografia de Zé Basileu e colocou na sala. Fez juras de amor e castidade, só conheceria um homem em sua vida, aquele por quem viveu e que lhe deixou uma enorme herança. Ela pensou, pensou e não soube decidir o que ele gostaria que ela fizesse, por isso a fotografia.
José Basileu queria ser escritor, deixou para trás inúmeros manuscritos que nunca a viúva achou. Falava sobre a pobreza e a opressão das grandes empresas, como a que trabalhava. Não podia ir ao banheiro quando queria, nem comer fora da hora de almoço, nem café. E nem entregar o serviço incompleto, não importava a hora, tinha de terminar. Mas suas ideias se foram na frente da igreja e ninguém nunca soube o que ele pensava da vida.
De tão longe comprou uma moto para ir trabalhar. Fazia metade do tempo, mas morria de medo. Corredor, só se for largo. Ultrapassar então, só os carrinhos de sorvete na calçada. Mas quando bebia, virava piloto de corrida. Curtia as luzinhas vermelhas brilhando e sendo deixadas para trás. No dia seguinte, se arrependia. Deitava a cabeça penosa no travesseiro fedido pedindo para não mais repetir o abuso. E demorava a aprontar, funcionava.
Sua mulher um dia falou “Zé, cuidado, Zé, você tem três filhos e não vai me deixar sozinha né?” Assim, Zé Basileu, deixou de beber antes de pilotar e voltava tranqüilo para casa. Passava os dias a divagar se devia ou não ficar, filosofava tanto que se perdia sem perceber num pensamento qualquer. Zé oscilava, mas não era bipolar. Sabia bem o que queria, mas não sabia como chegar.
Às quartas-feiras, fazia uma fezinha na mega-sena. Jogava sempre os mesmos números, até que um dia trocou e nada aconteceu. Voltou a jogar nos velhos e seus sonhos foram ficando a cada dia menores. Ele foi encolhendo junto, achando que tudo de ruim acontecia com ele e nada poderia fazer mudar seu destino de pobre, sem sucesso, sem grana nem pro cigarro que ele insistia em fumar.
Na quinta-feira saiu mais cedo do trabalho e planejou uma noite diferente. Queria olhar para a esposa e lhe dizer o quanto a amava, “será que dá para pegar ingressos para o jogo do fim de semana?” O mais novo ainda não tinha ido. Queria comprar esfihas e Coca-Cola, e depois que as crianças dormissem, fazer um amor cheiroso com a “nega”. Mas o destino lhe reservara outros planos.
Ainda com sorriso no rosto José Basileu, ao passar pela igreja perto de seu serviço, se benzeu e morreu. Caiu num buraco que lhe atirou ao chão. Ficou ali estatelado sentindo o sangue encharcar o capacete. Uma luz forte lhe cegou as vistas e tudo ficou escuro. Um homem se aproximou e buscou seu celular no bolso, estava tocando. Era sua mulher, ela ouviu e chorou.
Junto com o celular o homem encontrou um bilhete. Os números foram sorteados, mas ele devolveu à viúva. Ela mandou ampliar uma enorme fotografia de Zé Basileu e colocou na sala. Fez juras de amor e castidade, só conheceria um homem em sua vida, aquele por quem viveu e que lhe deixou uma enorme herança. Ela pensou, pensou e não soube decidir o que ele gostaria que ela fizesse, por isso a fotografia.
José Basileu queria ser escritor, deixou para trás inúmeros manuscritos que nunca a viúva achou. Falava sobre a pobreza e a opressão das grandes empresas, como a que trabalhava. Não podia ir ao banheiro quando queria, nem comer fora da hora de almoço, nem café. E nem entregar o serviço incompleto, não importava a hora, tinha de terminar. Mas suas ideias se foram na frente da igreja e ninguém nunca soube o que ele pensava da vida.
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