Melancolia, eu quero uma pra viver
Hoje eu acordei assim, preso num passado distante revigorado pela chuva fina e o dia escuro que se fez.
Um sentimento esquisito que não diz nada demais, mas que também faz você querer voltar à cama como que se fosse possível reverter esse sentimento para algo melhor.
Tenho raiva desses dias, tenho vontade de chorar, tenho vontade de esquecer o passado que insiste em viver grudado como um fantasma que quer de tempos em tempos reviver no meu presente.
Quando isso acontece fico pensando no que está errado, ou o que está acontecendo para eu me sentir assim. Aos poucos vou deixando algumas lembranças passarem na minha cabeça, como o dia que completei três anos. Na ocasião, meu avô Oriovaldo tinha uma câmera, e não se assustem, daquelas que tem manivela para rodar, e ficava tentando me filmar e eu chorava feito louco porque não queria, e todo mundo lá fora cantando o ‘parabéns a você’, e eu me escondendo numa lavanderia fria que cheirava cândida e mofo. Por isso, talvez, até hoje não goste de aniversários. Lembro de outros que chorei ouvindo esta música.
Lembro também de uma vez que estava no camping Casarão em Itu, e meu tio Jaburu disse que ia passar a noite em Piracicaba, perguntou se eu não me incomodava de ficar sozinho até o dia seguinte, eu devia ter uns 14 anos. Nesse dia, deixei ele ir na boa, mas depois que ele saiu fiquei mal. Fui nadar na piscina e afundava a cara na água para chorar, não me conformava de jeito nenhum, parecia que o mundo ia acabar. Na verdade eu fiquei preocupado com o que ele ia fazer lá, ou com medo da solidão, ou com a estrada que era uma porcaria naquele tempo.
Tempo. Esse é o mal dos males. Quando a gente quer que ele pare, ele voa, quando queremos esquecer algo, ou está chato demais, ele pára. Como agora, minha janela ainda tá escura e minhas memórias atravessam um longo espaço de tempo para eu me sentir um pouco melhor.
Uma das minhas piores lembranças remete à moral. Uma vez eu escondi no meu estojo um apontador de lápis em formato de capacete que era o mais bonito da classe. Roubei mesmo, de um moleque que era até legal comigo, e era também mais rico que eu. O pior não foi ter visto ele chorar por causa do apontador, mas outro moleque ser incriminado no meu lugar, e eu nunca ter podido usar o dito que ficou escondido numa escrivaninha até o fim do ano.
Todas essas memórias remetem ao sentimento que tenho hoje. Embora não tenha praticado o roubo profissionalmente depois de adulto, vivo roubando palavras que não deveriam existir. Embora não tenha nada para lamentar como a viagem do meu tio e não seja meu aniversário, estou com muita vontade de enfiar minha cabeça na água e chorar copiosamente, intermitentemente até sair tudo. Um dia sem graça, apesar de estar apenas começando. Acho que vou voltar a dormir, quem sabe sonho com algo que esqueci.
Um sentimento esquisito que não diz nada demais, mas que também faz você querer voltar à cama como que se fosse possível reverter esse sentimento para algo melhor.
Tenho raiva desses dias, tenho vontade de chorar, tenho vontade de esquecer o passado que insiste em viver grudado como um fantasma que quer de tempos em tempos reviver no meu presente.
Quando isso acontece fico pensando no que está errado, ou o que está acontecendo para eu me sentir assim. Aos poucos vou deixando algumas lembranças passarem na minha cabeça, como o dia que completei três anos. Na ocasião, meu avô Oriovaldo tinha uma câmera, e não se assustem, daquelas que tem manivela para rodar, e ficava tentando me filmar e eu chorava feito louco porque não queria, e todo mundo lá fora cantando o ‘parabéns a você’, e eu me escondendo numa lavanderia fria que cheirava cândida e mofo. Por isso, talvez, até hoje não goste de aniversários. Lembro de outros que chorei ouvindo esta música.
Lembro também de uma vez que estava no camping Casarão em Itu, e meu tio Jaburu disse que ia passar a noite em Piracicaba, perguntou se eu não me incomodava de ficar sozinho até o dia seguinte, eu devia ter uns 14 anos. Nesse dia, deixei ele ir na boa, mas depois que ele saiu fiquei mal. Fui nadar na piscina e afundava a cara na água para chorar, não me conformava de jeito nenhum, parecia que o mundo ia acabar. Na verdade eu fiquei preocupado com o que ele ia fazer lá, ou com medo da solidão, ou com a estrada que era uma porcaria naquele tempo.
Tempo. Esse é o mal dos males. Quando a gente quer que ele pare, ele voa, quando queremos esquecer algo, ou está chato demais, ele pára. Como agora, minha janela ainda tá escura e minhas memórias atravessam um longo espaço de tempo para eu me sentir um pouco melhor.
Uma das minhas piores lembranças remete à moral. Uma vez eu escondi no meu estojo um apontador de lápis em formato de capacete que era o mais bonito da classe. Roubei mesmo, de um moleque que era até legal comigo, e era também mais rico que eu. O pior não foi ter visto ele chorar por causa do apontador, mas outro moleque ser incriminado no meu lugar, e eu nunca ter podido usar o dito que ficou escondido numa escrivaninha até o fim do ano.
Todas essas memórias remetem ao sentimento que tenho hoje. Embora não tenha praticado o roubo profissionalmente depois de adulto, vivo roubando palavras que não deveriam existir. Embora não tenha nada para lamentar como a viagem do meu tio e não seja meu aniversário, estou com muita vontade de enfiar minha cabeça na água e chorar copiosamente, intermitentemente até sair tudo. Um dia sem graça, apesar de estar apenas começando. Acho que vou voltar a dormir, quem sabe sonho com algo que esqueci.
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