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Mostrando postagens de maio, 2008

Uma noite mal dormida

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Dormi pouco, uma noite mal dormida, Minha cabeça tava de saída, Um cansaço de estar vivo me entorpecia, Vivi buscando algo que encolhia, Fiz caras e bocas, perdi a graça.. Levantei azedo, gosto de chuva e medo, Fatiei meus olhos, meus pelos e cabelos, Tinha um vinco na cara, uma lembrança amarga, Tudo doía, meio que amolecia Parece que eu não sentia, Até que o sol ardeu minha cara. Lá embaixo a cidade acordava, Eu sem saber se ia ou ficava, Se falava ou mentia, se pulava ou caia, A puta da gata me lambia, Eu ainda não sabia, Se chutava ou se carinhava A água fria me esquentava, Eu estava vivo e não sabia, Pés e mentes estão molhados, Mas a sede não sacia, Pé ante pé, pulo seco no capacho, Agora vejo outro, um reflexo amistoso A memória me ignora, Tão alheio a mim mesmo dou de ombros, Fiz passado o presente que ganhei, Fiz curvas com as retas que andei, O arrependimento é minha luz e é a certeza da repetição, Só a lua é testemunha de por onde andou meu coração...

Gosto Estranho

Sinto um gosto estranho na boca, Parece um fim de tarde poluído no metrô, A garganta amarga, gosto de metal e graxa, Sinto gosto de nada pra fazer, Sinto gosto de angustia com anseio, Gosto de clips, de ácido metafísico, O amor preso ao cadafalso, O cinismo alimenta seu sabor, Magnetiza a massa corpórea. Sinto um gosto estranho na boca, É o gosto do indesejável, É o gosto do dissabor.

Maria Rosalinda!

Mãe, minha rainha e dona de minha vida. Meu passatempo predileto é um cafuné em um colo gordo e cheiroso. Minha comida predileta é qualquer uma que ela prepare. Minha conversa mais sincera é aquela que temos com um olhar. Mãe assim tem milhões e só tem uma. O sorriso disperso em nossa empatia nos mostra guerreiros inconformados. Sabemos que a justiça está em nossas mãos e neste ponto somos parecidos. O altruísmo que a fez mãe mais uma vez herdei de bom grado. Entre tantas histórias que vivemos guardo melhor aquelas de quando eu era pequeno. Seguia seus passos por todos os lugares, ficava na cozinha apressando o jantar e dando pitacos. Ela me mostrou que a vida é dura, mas também que é a coisa mais preciosa que temos. Ela me disse para eu acreditar que poderia ser o que quisesse. Amor de mãe não tem fim. Mesmo quando sinto coisas ruins, ou quando sucumbo num choro pesado cheio de soluços, ela saberá como me fazer sorrir. Mesmo quando dói de saudade, a gente se beija e se abraça em pensa

Cansei de ser eu

Me sinto calado gritando a plenos pulmões, Me sinto cego em plena luz do dia, Sou fã, sou família, mas vejo meu caminho de dominós desmoronando junto com minha alma. Não há mais sonhos, não há mais caminhos iluminados de sucesso e vitória, Quase todos meus sonhos estão gastos. Não vejo mais linhas escritas no branco do papel, não vejo mais o trem da alegria real e vibrante que tinha na adolescência. Estou no meio do nada. Não me sinto velho, não me sinto novo. Estou distante de tudo que tanto desejei quando descobri o amor. Todos os tropeços, todas as derrotas venceram. As barreiras da vida estão maiores que a Muralha da China. Não são meus dedos calejados, não é minha preguiça em acordar cedo, não é minha poesia que falha a existência. É todo o resto que me cerca. É o mundo que foge dos meus pés toda vez que eu acredito que poderei vencer e mesmo assim, não sou a derrota. Também não sou o conformismo, também não deixei de tentar, mas acho que vou parar de sonhar. O sonho me consumiu d

Estrume louco

Outro dia fiquei intrigado com um cocô de gato que apareceu no meu quintal. Sai de casa para pendurar a roupa e ele estava lá, feito uma cobra disforme no piso claro que logo destacou. Cheguei bem perto a ponto de sentir o cheiro inconfundível de estrume de gato. Horrível, forte, denso, nauseante e tudo que lembra o pior cheiro da sua vida. Confesso que tenho poucas habilidades na lida com animais e recolher aquele pequeno feto retal de felino era uma tarefa no mínimo ingrata. Mesmo assim, estava de bem com a patroa, não queria aborrecê-la com pequenisses. Fui lá peguei uma pá, tomei cuidado pondo um pedaço de jornal na ponta para não sujar a pá, recolhi a bosta e a atirei no lixo. Senti o alivio estender meus músculos tensos e voltei para as roupas molhadas. Pendurei uma camisa, depois com habilidade duas camisetas e um vestido da minha filha. A esta altura estava contente por estar ajudando minha esposa, não que seja raro, mas ela merece sempre mais, sabe como é... Então, voltei para

A desconstrução do Lead.

Elaborar um texto jornalístico exige técnica aprendida na academia, no entanto venho me comportando muito mal nesse quesito porque não sou adepto da pirâmide invertida. Gosto dela quadrada em que se virar o texto de ponta cabeça terei a informação com peso distribuído, coeso não só na estrutura, mas na importância dos fatos. Quando entrei pra faculdade já escrevia muita coisa. Minha escola da vida veio da poesia que além de não ter lead, não tem objetividade. Depois veio das revistas que coleciono em que o lead vem depois do nariz de cera, vem depois daquela preparação, daquela introdução que ergue quase um suspense literário para a informação. Mas a Dona Cilene Victor (está me lendo professora?) está me ensinando à força das notas baixas que tenho com ela (e só com ela) que não posso ter um estilo próprio. Pelo menos não desrespeitando a regra lidal. Vem título, linha fina, lupa, lead e sub-lead com toda informação importante, e então eu pergunto: Pra que ler o resto do texto? Para te

Tarde Cheirosa

Um dia de tarde sem nada pra fazer. Ali apenas o amor existe entre vidas tão iguais e tão opostas. Somos essa tarde cheirosa, chia de preguiça, cheia de sorrisos perdidos no ar sem motivo pra dar. Ela caminha sensual, mesmo sem ter um corpo escultural. Ela sorri com a mesma sensualidade, convidando, instigando um corpo que responde ao chamado. Me vejo calado quando nos olhamos, mas sinto que digo com os olhos o que a boca ocultou. A tarde avança, mas ainda é clara e aproveitamos o sol do fim de tarde para nos deitarmos, entregues ao desejo. Um beijo. De repente o sorriso se transforma em gargalhadas, fazemos cócegas sem querer, brincamos de criança fazendo coisas de adultos, somos inocentes perigosos, somos calma e euforia, somos delito e paixão. Mais tarde, quando a noite invade e traz a escuridão, esfria a casa e o coração. Nada mais é preguiça, tudo se torna obrigação. A rotina é cruel, o olhar se torna o fel que outrora estava escondido. Ao lado dela me sinto sozinho. Milhares de c