Estrume louco

Outro dia fiquei intrigado com um cocô de gato que apareceu no meu quintal. Sai de casa para pendurar a roupa e ele estava lá, feito uma cobra disforme no piso claro que logo destacou. Cheguei bem perto a ponto de sentir o cheiro inconfundível de estrume de gato. Horrível, forte, denso, nauseante e tudo que lembra o pior cheiro da sua vida.
Confesso que tenho poucas habilidades na lida com animais e recolher aquele pequeno feto retal de felino era uma tarefa no mínimo ingrata. Mesmo assim, estava de bem com a patroa, não queria aborrecê-la com pequenisses. Fui lá peguei uma pá, tomei cuidado pondo um pedaço de jornal na ponta para não sujar a pá, recolhi a bosta e a atirei no lixo. Senti o alivio estender meus músculos tensos e voltei para as roupas molhadas.
Pendurei uma camisa, depois com habilidade duas camisetas e um vestido da minha filha. A esta altura estava contente por estar ajudando minha esposa, não que seja raro, mas ela merece sempre mais, sabe como é... Então, voltei para pegar mais pregador e quase cai num escorregão. Olhei para o chão e tinha pisado adivinha no que? Na bosta de gato de novo. A merda estava no mesmo lugar em que eu limpei a outra. Fiquei naquela de Deja Vu, no será que eu não limpei? Será que apenas viajei, ou deixei cair no mesmo lugar? Sei lá o que era aquilo, fiquei naquelas até resolver olhar no lixo e ela estava lá.
Imediatamente procurei o gato, olhei atrás de um vaso, da máquina de lavar, do cesto de roupas e nada. Já fiquei puto. Tirei o tênis, atirei no tanque e abri a torneira. Voltei peguei muito papel higiênico, mas foi um bolo que encheu minha mão, fui até a bosta e esfreguei com a maior cara de nojo. Sorte ninguém estar vendo. Depois de limpar o tênis no tanque, tentei respirar calmo e voltar à já enfadonha tarefa de pendurar as roupas no varal. Fiquei feliz ao olhar para o local e não ver mais cocô.
Rápido como se rouba pendurei tudo direitinho, pensando sempre no mistério da bosta mágica que foi e voltou pro mesmo lugar. Acabei rindo da situação até que olhei para o uniforme da minha mulher, que é branco e lá estava um naco de bosta pendurado. Não me contive, enfiei a mão e puxei toda merda com meus dedos, tentando deixar o mínimo na camisa. Ficou aquele rastro marrom esverdeado nojento bem no centro da camisa e o botão ficou “preenchido” nos furinhos de cocô. Olhei pro alto e o filha-da-puta estava lá. Em cima da árvore balançando lentamente o rabo negro como a noite. Pensei (sem preconceito) “só podia ser preto, filho-da-puta” pra se esconder na noite escura e cagar três vezes em cima de mim.
O sangue estava quase saindo pelo meu cabelo quando eu disse baixo, mas com raiva “eu vou te matar”. E era verdade. Fui passo a passo pra casa, com os dedos ainda sujos que cegamente passei na parede, e quando entrei corri pro quarto e peguei meu 38. Já voltei engatilhando, o vi pela janela e de punho em riste adentrei o quintal feliz em poder me vingar. Quando olhei para a árvore aconteceu o óbvio: ele tinha sumido.
Meus vizinhos depois ficaram pensando onde eu aprendi tantos palavrões diferentes. A da esquerda disse para a minha mulher tomar cuidado, que tinha pensado em chamar a defesa dos animais, mas ficou com medo da minha reação. O da direita de repente virou aquele simpático distante, sabe? Olha sorri quase com medo e nunca mais fala com você.Apesar de ter perdido a camisa, minha mulher e eu acabamos nos divertindo muito com a situação, inclusive com relação aos vizinhos. Mas decidimos que nunca teríamos um gato. Aliás, preferimos crianças. Demora um pouco, mas elas aprendem onde fazer cocô.

Comentários

Anônimo disse…
Hahahahaha

Cassius Gamp - Contador de histórias!

Muito boa! Me rendeu boas risadas!

Mas identifique que a história é ficção, né? Caso contrário, além de eu não ir mais na sua casa com receio do três oitão, tenho medo de ser presentado com uma grande rajada de bosta do gato acrobata!

abração!

Lakes!

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