Muito frio congela o cérebro

Dos dias frios desse ano eu já perdi as contas. Fiquei esperando ansiosamente por uma virada na primavera e ela não veio. O dia começa com a ventania típica de inverno e a garoa fina paulistana não dá trégua. Fico até sem jeito pra escrever sobre esse tempo de tempos incertos no clima. Que saudades do verão!

Lembro daquelas chuvas que espalham o cheiro do asfalto e são bem-vindas no calor. Lembro do sorvete de máquina que a gente compra na praia. Das meninas com pouca roupa e sandália. Lembro do surf em ondas pequenas e quentes, dos passeios pelo bairro sem destino para espantar o calor sufocante. O verão deixa lembranças coloridas na mente, o inverno deixa um inevitável gosto de tristeza no ar.

Eu me congelo também. Fico pensando entre um cigarro e outro o que poderia escrever para espantar o frio. Penso na tristeza de estar preso em casa. Nas blusas que me prendem no corpo, na minha vida inteira em preto e branco. Assim é a fotografia do inverno. Cinza, ela perturba não pela falta de cores apenas, mas pela falta de temas alegres, de vida intensa, de calor humano e também de sexo.

Ainda que pudesse espantar de vez o frio, ficaria impregnado das paredes que tentam me proteger. Enclausurado na falta de idéias falo sobre o frio como se fosse meu inimigo tentando me esconder. Falo sobre o frio tentando me aquecer. Não aqueço nem meu corpo, nem minhas idéias, e escrevo algo que não tem nada a ver, até nisso o frio me prende.

Enquanto o calor não vem, tento me esquivar de mais uma rajada. Fico aqui encolhido pensando nos textos que ainda não fiz, e meu tempo escoa junto com o vento.

Vou terminar esse texto pensando no verão. Eu de bermuda e sem camisa tomando um sorvete na praia depois de um surf. Quem sabe semana que vem ele não chega.

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