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Bom dia sem Rita

Botei um bluezinho hoje pra ir devagarinho Amanhecer hoje foi um teste de resiliência daqueles que temos quando o tombo é grande. Uma artista, uma pessoa que ficava ali no canto da sala olhando de soslaio todos os seus self-judges sobre tudo que faz. Rindo percebendo o quanto nos esforçamos para deixar a vida passar sem toca-la, sem que vivamos realmente ou plenamente. Ser humano é uma barbárie. Brasileiro então, é um troglodita. Um guerreiro sem dentes, sem armas, sem comandantes. Mas ela não. Ela vivia como uma pena que flutua sobre todas as intempéries. Uma pena brilhante, leve e louca de tanta substância química que temperava seu ser. Privilégios, claro, mas quantos souberam usar como ela? É daí que vem a força do Rock. Dessa temperância ácida. Desse desleixo proposital de fugir dos esteriótipos que nos pausterizam no vislumbre coletivo. Rita era natural. Era Franciscana - hippie, mas uma Franciscana. Mais do que as músicas que cantou e nos tirou do sofá, as palavras que pro feriu,

A arte de ser medíocre

  Existe uma fabulosa paz para os que se reconhecem medíocres. E mediocridade no capitalismo exacerbado parece um xingo. Na verdade, ser mediano, medíocre, nada mais é que estar ali... meio que no meio da tabela... nem campeão, nem rebaixado. Tipo o São Paulo dos anos 10 (ridículo, aliás). Mas enquanto somos forçados a encarar que menos que campeão é lixo, o gosto do chorume nos entope a garganta, embrulha o estômago, nos faz depressivos demais para sermos felizes com o que temos. E é aí que entra a arte de ser medíocre. É o que temos para hoje. E aceitar isso tem um bônus extra além da que toda aceitação tem. Aceitar a mediocridade, não é ser acomodado. Até porque, você pode não ser medíocre em tudo o que faz (inclusive isso pode acontecer, sem problemas também), e ter coisas que goste de fazer, e que execute bem melhor que a maioria das pessoas. Aceitar a mediocridade, é libertador do ponto de vista da pressão de ter que ser o melhor em tudo (principalmente no trabalho). Estar al

De volta para o futuro

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Hoje me reconecto com estas linhas que durante um tempo se fizeram de confessionário,  ou algo parecido. Fiquei anos preso ao formato, tentando criar algo além de meras memórias, como poesias e afins. Percebi que ao longo do tempo virou uma salada cultural em que horas expunha um cotidiano insólito e na maioria das vezes desinteressante, hora viajava na maionese com direito a textos praticamente inteligíveis. E agora quero voltar a um formato único em que mergulho em profundas reflexões sobre a vida em si. Reflexões que faço cotidianamente e vou lapidando com o objetivo claro e conciso de ser melhor... principalmente melhor escritor, e acima de tudo, melhor fotógrafo, artes que no alto dos meus 46 anos de vida quero me dedicar, e tornar meus trabalhos. Como podem perceber a escrita está longe disso, enquanto as fotos, essas sim estão engatilhando com mais facilidade, com uma certa bagagem inclusive.  Mas e eu nisso tudo? Como um ser que anseia mudanças e as provoca no seu âmago, pode o

Não me iludo

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Tudo permanecerá do jeito/ que tem sido... A música de Gilberto Gil muda como muda a vida. Ouça: ... transcorrendo, / transformando / tempo espaço navegando todos os sentidos..." Essa transformação nos levará de volta ao Pai. Mas como abraçá-la e transformá-la também na pura vida? Como aceitar o que não se pode mudar, ao passo que não tem por onde? O limite, é o limite. Cada um tem o seu. Nossa alma avoa, enquanto a cabeça perece. Ela se solta rápido de vícios e virtudes, enquanto a cabeça vive cheia de hábitos. Velhos hábitos enfileirados na prateleira que diz "Coisas que tenho que fazer" pesam como chumbo preto no peito do pequeno sonhador. Quanto tempo tenho que sonhar um sonho que se sonha só? Um sonho que se sonha junto é realidade, mas sonho que se sonha só... Raul então corta a sala de visitas e com a sutileza de seu indecifrável sorriso nos apresenta um dilema. Será que era uma borboleta sonhando que era um sábio chinês, ou um sábio chinês sonhando qu

Namaste Amém

Passo agora os tempos de reflexão suprimindo anseios terrenos. Uma atmosfera astral tomou conta da minha vida desde que me dediquei à arte da Yoga. São ares novos que respiro profundamente na minha vida e olhando de relance, vejo que preciso retratar-me também sob esse novo prisma. Vou fazê-lo a conta-gotas para que percebam a intensidade desse deleite. Autoconhecimento. Parece tão profundo e distante, mas está ao alcance das mãos. Levantar, sentar, dobrar e desdobrar. Respirar. Respire e perceba. Respire profundamente e sinta. O ar é o alimento mais essencial e abundante da vida. (E eu anos mandando fumaça pra dentro). Delicioso ar. Se conhecer requer concentração, mas para não ser tão chato, basta prestar atenção. Você sabe como é seu corpo, ok? Sim. Parta deste principio e descobrirá tesouros. Qual é seu limite de tempo para ficar agachado? Com o corpo torcido, quanto cabe de ar nos teus pulmões? Comece por ai. Medite. Gaste um tempo do seu precioso tempo olhando

Contrastes...

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Dormir e acordar, despertar para um mundo só seu em pensamentos suaves e distantes. Eu não estava ali. Só sentia um ambiente estranho, como se não conhecesse minha própria cama. Como se tudo ao redor fora modificado para sempre, mas dentro de mim não fora. Foi assim: ontem o calor me sufocava e o lençol não dava conta do suor. Minha alma estava leve e poderia ser levada por uma brisa. Eu abri os olhos e já era dia. Me levantei, mesmo cedo demais, e abri todas as portas e janelas. O cheiro é instantâneo. A relva resplandecente me abraçava como a um irmão. Um sorriso brotou antes dos dois olhos se abrirem. Ao longe o rio corria tão mansamente que podemos dizer que ele andava, sereno e calmo. Mas ao seu redor uma turba eufórica se atacava feito um carnaval a busca de alimentos. Os pássaros gorgolejavam em tons, intensidades, e timbres diferentes. Altos, concisos, disputando cada ouvido que se atinasse para a sinfonia. Eu estava realmente lá. Em tudo, a maresia, o cheiro de mar era

Emoção

Entre bruxas e mortos fico suspenso na bruma dos pensamentos que não se concretizam, não tomam forma. Aquele sentimento que ameaça sair vem até a garganta e trava, mas extravasa pelos poros, talvez faltem palavras, mas nunca sentimentos. Sentimentos nos traem. Nos revelam quando a gente não quer. Vira na cara uma expressão de indiferença, ou um sorriso malicioso de desejo, um despejo inconveniente de descoberta. Nessa hora imprópria pode também ser o contrário. Quando queremos demonstrá-lo, ele não sai. Fica barrado pelo orgulho, na mesma trava de garganta da marrudice, nos traindo de novo, tornando tudo insípido no limbo dos sentimentos. Mas sentimentos não são pensamentos. não posso escrevê-los, apenas tentar fazer com que se sinta o que eu sinto, mas é possível isso? Me parece um absurdo entrega-lo assim tão facilmente, ou tentar que eu transporte um pulsar para outro pulsar. O teu pulsar. Sentimento têm maturidade. Ela endurece o coração ao longo do tempo. Ao mesmo tempo fort