Sampa crua


As ruas cinzas de Sampa se contorcem atrás da violência e caos no trânsito.
Entre becos e bares, tribos soltas e herméticas se confundem com o astral da cidade.
Um signo de sorte e competência.
Um vai e vem de pessoas isoladas na coletividade.

Sexta-feira à noite a Augusta se transforma.
Todos os tipos e cores se misturam buscando se destacar.
Drogas, álcool e o inusitado e presente cheiro de maconha no ar.
Ela começa sem hora para terminar, nem o alvorecer pode salvar.

Busco olhar o olhar das pessoas.
Dentro deles vejo o cansaço, a euforia, a tristeza dos dias frios.
A certeza de querer ficar, mesmo que o sofrimento seja de amargar.
O trabalho, o namoro, a balada, o cinema, qualquer motivo serve.

Tudo é fuga na metrópole desgastada pela ganância.
As estradas para o litoral, os parques sujos e lotados,
Os shoppings. São redomas blindadas e cheias de preconceito.
Quem quer o mais novo lançamento?

Quem pode comprar?
A moda é uma fuga, o perfume é outra, todas elas confluem na aceitação de ser.
Aqui a lei é ser ou não ser, se tem é, se não tem, quer ser.
Escorar, trombar, xingar e continuar. De novo o vai e vem, agora de reflexões.

O dia não amanhece para todos.
Lágrimas pretas na calçada, cortejo fúnebre na Consolação, desespero de mães e filhos.
Sampa crua, nua, sem sentimentos, ou compaixão.
Só a chuva pode apagar os vestígios, por isso ela nunca demora.

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