Sacada do Sr. Sacae
Quando cheguei no Tucarena perguntei para o senhor Sacae se ele era o fotógrafo João Kulcsar, para quem já tinha várias perguntas em mente, discreto, mas muito simpático, o senhor Sacae se apresentou e daí começou não uma conversa, mas uma amizade. Falou sobre o trabalho da filha, enfatizou a causa que ali estavam defendendo e em alguns pontos, me disse coisas que poucas pessoas tem sabedoria para poder falar.
Ainda falando sobre a filha, me contou de quando ela era pequena, e que fora criada para ver o mundo redondo, sem cantos onde se escondam as maldades da vida. Depois me apresentou o Peter, que foi entrevistado com meu inglês insuficiente, mas que valeu para a conversa. Peter me falou sobre a população. Apesar de contar que algumas fotos mais fortes foram excluídas da exposição, falou que o povo foi muito receptivo e pediam para ser fotografado, mas também muito sofrido. A economia deles, me contou o sr. Sacae, foi literalmente por água abaixo. Quatro ilhas já estão submersas e a economia de agricultura e piscicultura ficou comprometida na região.
Para situar melhor meu leitor as ilhas de Sundarbans estão localizadas entre a Índia e Bangladesh, com o Rio Ganges cortando boa parte delas. A população de cerca de 4,3 milhões de pessoas tem se refugiado cada vez mais no continente diante da iminente ameaça de submersão total das ilhas. O furacão Alia que passou em maio de 2009 na região, deixou seu rastro de destruição para uma população que tinha como maior ameaça os ataques de crocodilos e tigres de bengala, também muito freqüentes. Além de tudo, a região é o maior mangue do mundo, fundamental para o equilíbrio ambiental. Tudo ameaçado devido o aquecimento global.
Depois de uma aula sobre documentação social, juntou-se a nós o motivo de orgulho do sr. Sacae, sua filha Cristiane Aoki. Aparentemente nervosa ou ansiosa, ela também foi muito simpática e me contou sobre as dificuldades de se produzir as fotos como eles fizeram nas ilhas. Praticamente levaram um estúdio a campo com luzes e rebatedores. “Andávamos com lama pelo joelho, num calor de 40º com muitos mosquitos que transmitem doença nos picando” contou Cris. Um dos maiores pedidos dos moradores eram mosqueteiros.
Na hora da foto com a família e Peter, o senhor Sacae humildemente me chamou para aparecer na chapa, eu lisonjeado declinei, mas fiquei feliz. Depois ele me contou a fábula do beija-flor que vendo sua floresta pegar fogo foi pegando água no bico para tentar apagar, o macaco rindo dele disse que não adiantaria, mas o beija-flor afirmou que pelo menos estava fazendo sua parte. Comparou orgulhosamente ao trabalho da filha.
E disse mais. Me ensinou que enquanto o homem for amparado por um ser superior poderá crescer, caso contrário estará fadado ao insucesso. Palavras simples de um homem que com sua simplicidade é hoje coordenador de paisagismo do Senac para todo o Estado, e ainda ensina crianças carentes a pegar na enxada para cultivar a terra, sendo a agronomia sua grande paixão.
Peter e Cristiane
O debate foi muito esclarecedor e Peter Caton falou com a voz de um ativista fervoroso sobre a calamidade causada pela irresponsabilidade humana que atinge Sandarbans. A professora Conceição chamou atenção para a linguagem utilizada com a combinação das imagens e depoimentos para os efeitos desta ação social. O professor João Kulcsar apresentou a fotógrafa Maureen Bisiliat que estava na platéia, e está com uma belíssima exposição no Sesi da avenida Paulista.
Para fechar com chave de ouro, eu fui falar com Maureen e ela ficou feliz com o que disse para ela. Que a exposição dela me deu vontade de ler os romances retratados. Antes de me ir embora, ainda ouvi mais algumas sábias palavras do senhor Sacae e me despedi certo de um crescimento ímpar, gratuito por não ter preço, e completo por estar de acordo com a natureza e humanidade.
PHOTOGRAFIAS DA EXPOSIÇÃO: fotojornalismosãopaulo
Serviço:
Local: saguão do TUCARENA, na PUC SP
Endereço: Rua Monte alegre, 1.024 – Perdizes, São Paulo, SP (Entrada pela Rua Bartira)
Horários de abertura: de terça a domingo, das 14 às 20 horas
Telefone: (11) 3670-8453
Entrada gratuita e livre
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