Literatura - Ensaio Sobre a Cegueira / José Saramago

Ensaio Sobre a Cegueira
O caos social


O livro Premio Nobel de José Saramago, trás à tona uma situação de caos social possível perante a uma total alienação, causada na história, por uma epidemia de cegueira, e a cegueira em questão, não tem razão de existir, chega sem sintomas e em cada um rouba a visão. A deficiência tratada no livro como clinica, também nos remete a um pensamento coletivo equivocado por fatos que estão à nossa frente e não queremos enxergar.
Os personagens sem nome, os diálogos sem travessões, uma claridão que incomoda, filtra nossos pensamentos até que a cegueira também nos atinja, o mar de leite aos quais os personagens são submetidos nos faz refletir o quanto somos escravos da imagem, o quanto os outros sentidos juntos podem nos trair por estarmos tão acostumados ao que vemos.
No meio desta quase insuportável insuficiência coletiva, um pequeno grupo se beneficia tendo uma mulher que não é afetada pela epidemia, e os conduz através de um caminho infestado de morte e destruição, de perdição e desumanidade.
Após uma quarentena num hospício, o grupo sobrevive à falta de comida, higiene e lutas internas, submetem-se a outro grupo que conta com um cego armado e que toma seus bens e estupram suas mulheres numa orgia de dor e sofrimento que atinge todos em troca da comida confiscada por eles. Aos poucos os sentimentos também são atingidos pelo mal e o rancor domina os pensamentos enquanto a fome aperta, não há mais escrúpulos nem moral, a sujidade dos corpos afetam os corações que vão endurecendo com o decorrer das tragédias.
Quando não há mais condição mínima de sobrevivência, sem comida há quatro dias e com o local em chamas, os cegos vão à rua e descobrem que a cidade toda está cega. As casas foram abandonadas e trocadas de donos, os carros ficaram onde a cegueira decidiu, os mercados foram saqueados e a água é um luxo. Em meio ao caos, eles conseguem estabelecer uma sede e um a um vão se ajudando e, com as fraquezas expostas, se descobrindo.
Assim José Saramago transforma o lido em entendido, nos lembra da fragilidade do ser humano, que nos dias de hoje se esquecem com tanta facilidade das dificuldades vividas por uma sociedade civilizada, e que nossos instintos animais estão remotamente esquecidos, mas vivos. Vivos e esperando algo dar errado para agir, seja com benevolência, seja com podridão.

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