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Mostrando postagens de 2008

Perdeu a Pucca! Perdeu a Pucca!

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Natal é sempre o resultado de semanas de expectativa, programações, compras e muita correria. Em casa, o tradicional amigo secreto tem se modificado muito nos últimos anos. Este ano, o mais diferente, o seu amigo poderia lhe roubar o presente e depois você teria de escolher outro, ou ainda, pegar de outro que já tivesse ganhado. Tia Sil e Tia Mana emocionadas A minha Tia Mana comprou copos decorados que se tornaram a coqueluche do amigo secreto. A regra era que cada um comprasse algo em lojas de "R$ 1,99" sem saber a quem dar, quem era tirado escolhia um pacote. O primeiro copo passou na mão de três pessoas, era decorado com a Pucca. A cada novo sorteado, a sala lotada cantava em côro: "Perdeu a Pucca, perdeu a Pucca, perdeu a Pucca! O Tio Chico e a Amanda, minha prima, estavam cada um com um porta-retratos, também muito assediados. Numa estratégia ímpar terminaram com um copo cada um. Eu saí com cabides, tapauéres e um copo, que aliás era um dos dois da Pucca. Minha mã

Férias 2008

De férias, a saber, das coisas da minha vida que há tempos não aparecem por aqui. Assisti a um filme ontem por insistência da falta do que fazer, mas foi exceção, pois até ontem estava indo à faculdade terminar as provas finais do ano. E minhas últimas férias foram pautadas sempre nesse ritmo de pouco descanso e muito adianto. Esse ano foi o pior. Sai de férias e na mesma semana tive de voltar pra fazer o fechamento, que estava ameaçado pela saída de um estimado colega. Trabalhei quinta e sexta da minha primeira semana de férias. O Chamado “coito interrompido”. Tudo bem, viagem marcada para o domingo tudo certo pra descansar enfim, mas... (Esse “mas” será uma constante) à noite fui pra faculdade saber de um trabalho. A professora, coitada, teve de amargar minha cara de frustração diante de um trabalho que me sentia muito responsável e não estava bom. Nas malas então, muitos livros, cadernos e anotações para concluir esse trabalho. Adiei minha partida para segunda-feira e na parte da ma

A cidade nua

Chove na capital paulistana e a noite brilha. Um cigarro, um sorriso, um jeito cambaleante de ver a cidade se encolher. Toda melancolia da chuva invade os pulmões em mais um trago. Me vejo de repente num filme nacional. Sinto sede do sexo, cheiro do álcool, volúpia da embriaguez. Todos os cantos da cidade pulsam sob o sábado de novembro. Eu fico pensando nas pessoas indo para as baladas. Também penso na cama molhada do dorme-sujo. Quantas faces têm São Paulo? Seu nome de santo é um santo remédio? Não há prazer na indiferença de toda a diversidade cultural. Onde esconde o suicídio? A janela será a próxima a atirar um corpo. Com todo desgosto, com toda mácula enrustida na solidariedade política. Quantos milhões a cidade tem que gastar para se iluminar Quantos milhões há nos Jardins, quantos faltam no Ângela? São todos os impérios que quero revogar, Passei anos tentando um refúgio, mas agora quero voltar. Os carros cantam, brigam e dançam e a moto quer passar. Nos faróis são milhares, são

Finados, saudades de mim também

“Ó morte tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem” Raulzito. Lembro do dia da morte do meu avô Oriovaldo. Eu tinha acabado de fazer minha primeira Tattoo e ele era uma das pessoas pra quem eu fazia questão de mostrar. Ele tinha um lado revolucionário e conservador ao mesmo tempo e só sua opinião sobre minha atitude me dariam alicerces verdadeiros para minha filosofia de vida. Não ouvi. Essa foi a primeira morte sentida da minha vida. Depois minha vó Eneida, a sãopaulina mais fiel que já conheci, torcedora ferrenha que me ensinou dentre outras coisas a amar esse time. Também deixou saudades tão enraizadas que sua força reverbera por todos os atos da família até hoje. Recentemente morreu o Tio Nico. Ele era um símbolo de vida de dedicação à mulher, aos filhos e netos que dificilmente verei de novo. Quando penso neles penso em minha própria vida. Quantas noites perdi pensando na minha morte, quantos sonhos levei tiros quentes e continuei vivo, esperando sentir dor ou algo q

I m out!

Estou fora, sei lá do que, estou fora de pensar, estou fora de agir, estou querendo dar um tempo. Tudo é pra ontem, tudo quer parecer urgente, é muita gente!

Silêncio!

O silêncio é algo cada vez mais raro na sociedade moderna. E não falo da poluição sonora que explode com os ônibus, buzinas, etc. Aqui me refiro apenas à voz humana. Pense quanto tempo, excluindo durante o sono, você fica sem escutar ninguém dizer nada. Pense naquele livro que está lendo e imagine que os personagens são mudos e tudo o que fazem não precisa de palavras. Algo estranho para alguém que precisa delas a todo momento. Seja para me vender como trabalhador, seja para trabalhar, para estudar (jornalismo!) e para me relacionar de forma geral. Mas o que existe é um exagero estúpido em falar pelos cotovelos. As pessoas estão falando menos sozinhas (o que parecia coisa de louco, mas todo mundo fazia) e agora falam ao telefone celular, com três, quatro pessoas numa esquina ao mesmo tempo, no trabalho um mais alto que o outro para chamar atenção. Minha voz mesmo já está me irritando. Tudo isso é fruto do estresse que é voltar de metrô depois da faculdade e aquela chuva de alunos empol

Tio NICO pra sempre!

Não, não chores mais Não, não chores assim Vida, vida, vida, luz Sem ser hoje o coadjuvante Passando ao papel principal Curtindo Bob Marley Curtindo meu curingão Não, não chores mais Não, não chores assim Vida, vida, vida, luz Porque a juventude que Sempre receitei, é a Juventude do coração... Porque chorar agora? Se sempre fui a luz da esperança e a luz da alegria? Não, não chores nunca mais. Antonio Possidente - 06/04/1924 - 16/09/2008 Homenagem ao Tio Nico, que nos faz sentir uma saudade sem fim da alegria, da bondade e da crença de que o mundo pode ser um lugar bom para se viver, principalmente tivermos pessoas como ele por perto. valeu Tio Nico!

Cabocla da ilha

Calada minha alma serena, Estreita como a flor, À espreita de um amor. Sofro em silêncio dias cinzas sem vento Caminho calado por pedras pesadas Meu coração é u ó, Meu pensamento é um só Vidas cruzadas, perigas um trago, Deixar de soslaio um amargo veneno, Doce do beijo que eu quero expulsar Só a dor me abraça Fiquei fugindo da minha própria caça Acabei fisgado pelo amor em rede, Sofri de novo, chorei de sede. Não era às voltas de um peito em chamas Que minh’alma pulsa e o desejo clama Fiz besteira, deixei à revelia De arrependimento, faleci Desentendimento, eu entendi O vácuo me abraçou Ela intocável e tão singela, Sua humildade que me revela, Meu ninho de amor que não vivi Continuo a sofrer, sem me perder

Vidas paralelas

Gosto quando o gosto pelas palavras causa o hábito da interpretação. Gosto do som dos meus passos preguiçosos buscando alinhamento com meu coração. Gosto quando escrevo solto, sem idéias ou obrigações. Escrevo emoções. Hoje meu peito clama por calma. Minha cabeça, por clareza, meu corpo por paixão. Venho de tempos escuros de desilusão. Passeei por caminhos inócuos de incertezas, de indecisão, mas procurei aprender com cada buraco que visitei de mim mesmo. Nessa procura incessante por algo inusitado, recebi um prêmio do destino. Senti um carinho de outro mundo, uma louca paixão. Mas não me iludo por completo, pois poderia ser caixão. Acredito no eu mesmo, no poder do sentimento, na cura pros meus defeitos, na força exterior que me move e me incentiva a buscar meus ideais. Esses cada vez mais reais. E por isso vale a pena fugir de mim mesmo para me ver de outro lugar. Me vejo rodeado de pessoas boas e de bondade que emana de mim, não de falta de humildade, mas exatamente o êxito resultan

Amor para amar - por Saada Ayoub

Há coisas na vida que não entendemos. O amor é a maior delas. Como pode uma coisa que não podemos tocar, nem podemos ver. Mas que podemos sentir arder no peito. Que podemos morrer ou viver e que por mais que faça doer, infeliz daquele que não sentir. Começa com uma atração, vira paixão, vira amor. Só que o amor pode morrer. E se morrer só fica o vazio. De quem já amou e não consegue mais amar. Porque ele deixa marcas, cicatrizes. E o pior de tudo, deixa um vazio que às vezes não consegue ser substituído. Ame e seja amado. O amor envolve as pessoas que sentem. Ame independente de tudo. Pois amar faz você se inspirar. Quem ama e é amado se sente a pessoa mais feliz do mundo. Ame seus pais, seus filhos, seus irmãos, seus amigos. Ame a um estranho! Ame os animais. E acima de tudo, ame a vida que foi Deus que nos deu. Sady – 11/08/2008

Feliz dia de mim!

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Hoje é dia dos pais e o maior presente eu recebi ontem. Um dia inteiro, completo ao lado da maravilhosa da minha filha. A minha digníssima esposa foi trabalhar e talvez por isso tenhamos vivido um dia tão especial. Me senti pai e mãe dela, senti que era seu amigo, seu irmão, seu companheiro. Percebi a real importância dela em minha vida. O equilíbrio entre a labuta e o lazer, entre a diversão e a obrigação, o saber e o fazer. Esse dia começou na verdade na sexta-feira. Debute de uma prima em um buffet perto de casa. No meu colo ela segredou, “pai, quando eu ‘se’ do tamanho da Carol eu quero uma festa igual a dela”. Lembrei dos príncipes de honra e senti o gosto amargo do ciúme, mas prometi pra ela a festa. Mais tarde ela já não agüentava mais de sono, mas fazia questão de tentar dormir no meu colo enquanto eu dançava na pista de “creu” aos tradicionais flashbacks.

Raiza Deusa de Zion

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Aparentemente estou precisando fugir um pouco de cena para dar espaço a um pensamento critico sobre mim mesmo e sobre minha vida. Para isso é preciso muito mais que observar o ego de uma perspectiva distante. É preciso entender as falhas da minha atitude, é preciso discutir comportamentos, pensamentos, conhecer também minhas virtudes. Entender como posso alcançar meus objetivos e conseqüentemente obter sucesso. Pensei em várias alternativas e nenhuma delas foi tão palpável e atraente quanto viajar em uma espaço-nave até o planeta mais próximo e conhecer o que eles têm de melhor por lá. Foi o que fiz. Cheguei em Zion com pensamentos ortodoxos e raciocínio apurado para extrair todas as informações que me dariam aqui na Terra oportunidade de me corrigir e, de enfim, ser feliz. Mas o planeta se revelou um mar de mistérios até que o milagre aconteceu. Conheci o grande oráculo de todos os tempos naquela esfera. O ser que equilibrava, mantinha, iluminava todo o planeta Zion. Sua sabedoria é c

De sol a sol – vinte anos de surf

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Aos 12 com minha Curle e Curve A serra na Mogi-bertioga iluminada pelo sol das 8h foi o cenário que escolhi para revelar a meus novos amigos que aquela descida representaria o aniversário de vinte anos do surf na minha vida. Quando já na Riviera desci a primeira onda, me lembrei de como tudo começou. A velha sensação de liberdade e de felicidade que o surf proporciona invadiu minha alma do mesmo jeito que a primeira vez. Assim é o surf. Quem se aproxima do esporte percebe sua vibração positiva logo de cara. As praias, as roupas, as cores, a sensação de liberdade é incrível. A impressão que eu tenho, sem falsa modéstia, é que sou precursor dessa sensação, pois quando descobri as pranchas elas eram raras ainda, não era bonito ser surfista por causa dos preconceitos. O fato é que eu pedi uma prancha pro seu Noel e ele trouxe, há exatos 20 anos. (Noel não entendia muito de surf, essa prancha era uma das piores na época. Veio numa caixa de papelão, enrolada num plástico bolha, as quilhas m

Sensível

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Nos últimos cinco minutos senti vontade de chorar três vezes, Duas por que fiquei emocionado com uma música, A outra foi porque lembrei que sou feliz. A felicidade pra mim é uma casa pequenina. Cheirinho de comida caseira, as crianças no quintal, Quando sinto que tenho tudo o que sempre quis, esqueço daquilo que não consegui ter. Não sei se é uma virtude, mas também não é um defeito. Muito pouco me basta, mas o muito pouco que me falta, quero muito. Nunca parei para tentar descobrir o porque da minha felicidade, Mas quando me sinto assim eu sei. Não que eu queira falar... Sabe quando a tarde é clara e fria, Você sente algum cheiro da sua infância, viaja nos pensamentos. A sensibilidade me torna vulnerável e forte ao mesmo tempo. Agora ouço Raul, “Canto para Minha Morte”, Não vou sentir vontade de chorar, nem de morrer, Mas vou lembrar de novo que sou feliz.

O dia em que o Pelé morrer

Às vezes eu tenho a impressão que o Pelé nunca vai morrer. Fico olhando ele no comercial do Vitasay e penso “meu, ele é eterno!” Daí eu vejo que ele também nunca engordou, não bebe, nunca fumou, acho que também nunca se drogou. “Poxa, o Pelé nunca vai morrer mesmo, ele já morreu”. Ele morreu quando marcou o milésimo gol, ou quando fez o Brasil parar com o tricampeonato mundial. Dali em diante sobreviveu uma história, um mito. Mas o fato é que esta lenda ainda está viva e o encarnadíssimo Edson Arantes do Nascimento vai falecer de verdade um dia e estará armada a confusão. Apesar de todos saberem que o Pelé é eterno, ver ele no caixão será um choque paradoxal. Primeiro por causa do próprio mito criado e mitos não morrem e ele estará lá, mortinho da silva. Segundo porque a comoção será tão exageradamente grande que será preciso uma semana para os brasileiros voltar a trabalhar. Segundo porque o governo terá de travar uma discussão ferrenha para decidir quando será o dia de Pelé, feriado

Uma noite mal dormida

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Dormi pouco, uma noite mal dormida, Minha cabeça tava de saída, Um cansaço de estar vivo me entorpecia, Vivi buscando algo que encolhia, Fiz caras e bocas, perdi a graça.. Levantei azedo, gosto de chuva e medo, Fatiei meus olhos, meus pelos e cabelos, Tinha um vinco na cara, uma lembrança amarga, Tudo doía, meio que amolecia Parece que eu não sentia, Até que o sol ardeu minha cara. Lá embaixo a cidade acordava, Eu sem saber se ia ou ficava, Se falava ou mentia, se pulava ou caia, A puta da gata me lambia, Eu ainda não sabia, Se chutava ou se carinhava A água fria me esquentava, Eu estava vivo e não sabia, Pés e mentes estão molhados, Mas a sede não sacia, Pé ante pé, pulo seco no capacho, Agora vejo outro, um reflexo amistoso A memória me ignora, Tão alheio a mim mesmo dou de ombros, Fiz passado o presente que ganhei, Fiz curvas com as retas que andei, O arrependimento é minha luz e é a certeza da repetição, Só a lua é testemunha de por onde andou meu coração...

Gosto Estranho

Sinto um gosto estranho na boca, Parece um fim de tarde poluído no metrô, A garganta amarga, gosto de metal e graxa, Sinto gosto de nada pra fazer, Sinto gosto de angustia com anseio, Gosto de clips, de ácido metafísico, O amor preso ao cadafalso, O cinismo alimenta seu sabor, Magnetiza a massa corpórea. Sinto um gosto estranho na boca, É o gosto do indesejável, É o gosto do dissabor.

Maria Rosalinda!

Mãe, minha rainha e dona de minha vida. Meu passatempo predileto é um cafuné em um colo gordo e cheiroso. Minha comida predileta é qualquer uma que ela prepare. Minha conversa mais sincera é aquela que temos com um olhar. Mãe assim tem milhões e só tem uma. O sorriso disperso em nossa empatia nos mostra guerreiros inconformados. Sabemos que a justiça está em nossas mãos e neste ponto somos parecidos. O altruísmo que a fez mãe mais uma vez herdei de bom grado. Entre tantas histórias que vivemos guardo melhor aquelas de quando eu era pequeno. Seguia seus passos por todos os lugares, ficava na cozinha apressando o jantar e dando pitacos. Ela me mostrou que a vida é dura, mas também que é a coisa mais preciosa que temos. Ela me disse para eu acreditar que poderia ser o que quisesse. Amor de mãe não tem fim. Mesmo quando sinto coisas ruins, ou quando sucumbo num choro pesado cheio de soluços, ela saberá como me fazer sorrir. Mesmo quando dói de saudade, a gente se beija e se abraça em pensa

Cansei de ser eu

Me sinto calado gritando a plenos pulmões, Me sinto cego em plena luz do dia, Sou fã, sou família, mas vejo meu caminho de dominós desmoronando junto com minha alma. Não há mais sonhos, não há mais caminhos iluminados de sucesso e vitória, Quase todos meus sonhos estão gastos. Não vejo mais linhas escritas no branco do papel, não vejo mais o trem da alegria real e vibrante que tinha na adolescência. Estou no meio do nada. Não me sinto velho, não me sinto novo. Estou distante de tudo que tanto desejei quando descobri o amor. Todos os tropeços, todas as derrotas venceram. As barreiras da vida estão maiores que a Muralha da China. Não são meus dedos calejados, não é minha preguiça em acordar cedo, não é minha poesia que falha a existência. É todo o resto que me cerca. É o mundo que foge dos meus pés toda vez que eu acredito que poderei vencer e mesmo assim, não sou a derrota. Também não sou o conformismo, também não deixei de tentar, mas acho que vou parar de sonhar. O sonho me consumiu d

Estrume louco

Outro dia fiquei intrigado com um cocô de gato que apareceu no meu quintal. Sai de casa para pendurar a roupa e ele estava lá, feito uma cobra disforme no piso claro que logo destacou. Cheguei bem perto a ponto de sentir o cheiro inconfundível de estrume de gato. Horrível, forte, denso, nauseante e tudo que lembra o pior cheiro da sua vida. Confesso que tenho poucas habilidades na lida com animais e recolher aquele pequeno feto retal de felino era uma tarefa no mínimo ingrata. Mesmo assim, estava de bem com a patroa, não queria aborrecê-la com pequenisses. Fui lá peguei uma pá, tomei cuidado pondo um pedaço de jornal na ponta para não sujar a pá, recolhi a bosta e a atirei no lixo. Senti o alivio estender meus músculos tensos e voltei para as roupas molhadas. Pendurei uma camisa, depois com habilidade duas camisetas e um vestido da minha filha. A esta altura estava contente por estar ajudando minha esposa, não que seja raro, mas ela merece sempre mais, sabe como é... Então, voltei para

A desconstrução do Lead.

Elaborar um texto jornalístico exige técnica aprendida na academia, no entanto venho me comportando muito mal nesse quesito porque não sou adepto da pirâmide invertida. Gosto dela quadrada em que se virar o texto de ponta cabeça terei a informação com peso distribuído, coeso não só na estrutura, mas na importância dos fatos. Quando entrei pra faculdade já escrevia muita coisa. Minha escola da vida veio da poesia que além de não ter lead, não tem objetividade. Depois veio das revistas que coleciono em que o lead vem depois do nariz de cera, vem depois daquela preparação, daquela introdução que ergue quase um suspense literário para a informação. Mas a Dona Cilene Victor (está me lendo professora?) está me ensinando à força das notas baixas que tenho com ela (e só com ela) que não posso ter um estilo próprio. Pelo menos não desrespeitando a regra lidal. Vem título, linha fina, lupa, lead e sub-lead com toda informação importante, e então eu pergunto: Pra que ler o resto do texto? Para te

Tarde Cheirosa

Um dia de tarde sem nada pra fazer. Ali apenas o amor existe entre vidas tão iguais e tão opostas. Somos essa tarde cheirosa, chia de preguiça, cheia de sorrisos perdidos no ar sem motivo pra dar. Ela caminha sensual, mesmo sem ter um corpo escultural. Ela sorri com a mesma sensualidade, convidando, instigando um corpo que responde ao chamado. Me vejo calado quando nos olhamos, mas sinto que digo com os olhos o que a boca ocultou. A tarde avança, mas ainda é clara e aproveitamos o sol do fim de tarde para nos deitarmos, entregues ao desejo. Um beijo. De repente o sorriso se transforma em gargalhadas, fazemos cócegas sem querer, brincamos de criança fazendo coisas de adultos, somos inocentes perigosos, somos calma e euforia, somos delito e paixão. Mais tarde, quando a noite invade e traz a escuridão, esfria a casa e o coração. Nada mais é preguiça, tudo se torna obrigação. A rotina é cruel, o olhar se torna o fel que outrora estava escondido. Ao lado dela me sinto sozinho. Milhares de c

Nada a ver...

Nada a ver viver a vida assim, Sem preconceito de ter preconceito, Sem fazer o que se tem vontade, Sem desfazer o erro injustificável. Nada a ver ficar de fora, Das discussões do mundo, Das políticas internas e externas, Das parábolas de Monteiro Lobato. Nada a ver sentir vergonha, De falar em público, De usar uma roupa diferente, De sentir amor demais sem ser amado. Nada a ver fugir, Do trabalho árduo e diário, Do medo de borboleta, Do papo medíocre de boteco. Nada a ver se arrepender, Quando algo fez valer a lição, Quando a vida mostrou outro caminho, Quando a verdade fez perder um amigo. Tudo a ver acreditar, Que sem ela eu não consigo, Que a vida sempre tem sentido, Que o sonho é a realidade do mais forte!

Divisas perigosas

O mundo é uma fronteira, Cercas de arame farpado, homens fardados. Olhos iguais aos seus, iguais aos meus ao meu redor. O estica e puxa, o alarga e rasga da sociedade. O poder e a degradação, o conservadorismo e a inovação. O mundo doente, a doença é a nação. A nação é também a religião. A bondade é relativa, o gosto é o padrão. A destruição é em nome de Deus, ou deus. Não há compaixão, ninguém reparte o pão. Não existem mais Cristos, ninguém tem razão. Não é pessimismo, ninguém mais se abraça. Por mais que alguém o faça, Por mais que o amor prevaleça, Por mais que a ciência ajude. Só o dinheiro vai salvar-te, Só é o seu pensamento, seu umbigo, seu mundo. Só assim vai se sentir seguro. As divisas perigosas estão dentro de nós, Os preconceitos egoístas e prepotentes, A fé que machuca, o amor que destrói, O irmão a quem nego a mão, Aquele que quis sempre conhecer, É o meu espelho que renego sem saber.

Águas Profundas

Um pingo de tudo que vivi Me deixa boiando no que tem por vir. Vivi cada dia como se fosse o último. Perdi batalhas que foram verdadeiras enxurradas Ganhei outras espirrando alegria para todos os lados. Naveguei leve em dias de sol. Despenquei cachoeiras com erros terríveis, Mas sobrevivi à maioria das tempestades, Sobrou apenas o que não me molhou, Meu sonho com o infinito mar a contemplar-me, a minha vitória. Aos trinta, reflito se cheguei à meia vida. O tempo que ainda me resta quero botar num conta-gotas. Os maremotos que estão por vir vão encontrar um navio maior, Que formei devagar, sem pressa, com minhas forças e virtudes. Meus pés descalços não furam mais com pequenos espinhos. O rio da vida é assim. Ir contra a correnteza vai dificultar. Insistir no erro é um tiro n’água. Desistir de transpor as maiores ondas, também o é. Prefiro viver em águas profundas,Onde o silêncio é mais forte e a tranqüilidade é maior.

Vida revista em blog

Eu pensei em escrever sobre tantas coisas, mas a página vazia é sempre motivo de surpresa ou assombro. A vida anda tão louca que ultimamente só escrevo as coisas que sou obrigado, mas não são poucas. Semana passada escrevi um artigo pra Folha de São Paulo imaginária da profa. Cilene em meio a uma redação de pretensos focas. Fiquei tenso pra caramba e quando finalmente saiu o texto, não fiz revisão. Ou seja, acabei cometendo erros crassos que comprometeram a nota do grupo. Outro dia escrevi uma matéria para uma revista e vi lentamente a pauta ir a baixo por conta de uma reunião, adivinha com quem? Ela mesma, Cilene Victor. Já estou achando que esta pequena professora tem algo contra mim, deixa ela. Revisitei então algumas poesias antigas que fiz pra ver se me inspirava, sorri com algumas delas, mas não senti vontade nenhuma de rimar. A rima é um paradoxo para mim hoje. Apesar de vir fácil, dar sentido a elas é que fica complicado. Na faculdade aprendo a ser objetivo, algo que a poesia n

Universo paralelo de mim mesmo

Não consigo enxergar muitas vezes a imagem que fazem de mim. Vendo no espelho meu rosto imagino que me vêem assim, mas mesmo quando me dispo de todos os preconceitos da sociedade não me acredito ser quem sou do jeito que sou. Isso se deve ao fato de viver escondendo meus defeitos de mim, porque quero acreditar sempre na história do jardim do vizinho que é sempre mais bonito que o meu, mesmo assim quando o assunto é felicidade temos sempre a certeza de sermos os mais felizes em nosso modo de vida. Às vezes quero complicar mesmo para explicar que minha vida é espelho dela mesma em outra dimensão. Nesta dimensão tudo que digo e que faço tem outro sentido. Por exemplo, quando me olham e me dão um rótulo, qualquer que seja, acredito nisso, embora pese todos os meus princípios de saber quem eu sou, e já nesta consideração, não tenho mais aquele rótulo porque pus em cima dele o que eu acho que sou. Percebo que mesmo assim não consigo fugir dos olhos que me julgam. Toda vez que tento ser algué

Puro Poema (Exposição de fotos)

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Encontrar a beleza humana no mar requer muito mais que um simples olhar. A exposição de fotos que está no Conjunto Caixa Cultural – Conjunto Nacional da Av. Paulista consegue traduzir exatamente a confluência de belezas tão distintas. As lentes do fotografo Roberto Linsker congelaram, quase em palavras, ações de pescadores no litoral brasileiro. Sai de lá falando em rimas, não só pela beleza infinita das fotos em preto e branco, mas também pelos belos textos que serviam de legenda. Tem dois velhos barbudos abraçados num sorriso cheio de maresia. Pés pretos a beira-mar em que as pontas dos dedos desbotados revelam o tempo de água que já pisou. O vai e vem ao longe de homens e redes na areia branca lembram formigas trabalhando. Os músculos torneados pelas redes e vincados pelo tempo, de pescadores que só conhecem aquele canto de mundo chamado mar. São poucas fotos e tanta coisa pra olhar. A arte é assim pra mim. Não está lá apenas, tem que vir junto comigo quando saio. Tem que estar nas

Carnaval, carnaval, carnaval. Eu fico triste quando chega o carnaval.

A frase que ficou famosa nos anos 00 quando os Titãs a colocaram no disco acústico vem bem a calhar na minha vida. Sinceramente o carnaval pra mim tem outro significado. Quando posso viajar, vou para longe da confusão. Se não, fico em casa e são quatro dias de descanso e reflexões. Alguns trabalhos extracurriculares também. Ontem levantei bem cedo e antes de jogar bola gosto de ouvir um bom e pesado rock n’roll. Na contra-mão do resto do meu prédio liguei um Iron Maiden no talo e acendi um cigarro. Uma tragada profunda enquanto acordo me faz sentir longe de verdade da festa da carne. Aliás, será isso mesmo? A festa da carne? Carne – Valle? Vale. A despudorança come solta nestes quatro dias. E eu aqui, curtindo agora minha Janis Joplin. Também não sou tão avesso ao carnaval. Tirando os samba-enredos que ficam tumultuando meu tédio induzido, acho bonito ver alguns carros alegóricos, as mulheres seminuas, um espetáculo à parte, mas lembrar da praia grande lotada de pretensos a playboy ati

L........ L... L........L

Loura, Lolita, Linda, Liberta. Nem tudo é verdade, nem tudo é mentira. Somos pontos perdidos num espaço sideral que criamos, nele somos verdade, fora invenção. O rock’n Roll embala corpos e mentes, copos e sorrisos ofegantes, perdidos sempre no mesmo dilema. O coração pulsa com a força de um animal feroz querendo devorar partes de vidas fragmentadas pelo destino. A distância sentencia que o desejo é como uma nuvem de algodão doce. Querer nem sempre é poder. Viver inventando, criando, sofrendo e mesmo assim sorrindo. A Loura Lolita perdida em seus próprios devaneios de realidade e ficção equilibra-se, mantêm-se alerta e irradiante do tesouro que habita sua alma. Mulher dos pés à cabeça ligada por fios de aço tem o controle da situação, desde cedo foi assim. A casa, a família, tudo parece se prender a ela e ela apenas se equilibra. Tentar decifrá-la é pedir para ser devorado. Personalidade ímpar tem no coração de mãe a mão de Deus. Nós, súditos apenas observamos. Palavras que carregam do

My Name is not João!

O filme Meu Nome Não é Johnny de Mauro Lima chegou ao cinema nacional com a tarefa de dar continuidade ao sucesso de Tropa de Elite e nos primeiros dias conseguiu colocar grandes filas na frente das salas. Não que seja uma continuação ou algo parecido, mas o tema drogas e seus motivos estão em cena nos dois e também o cenário carioca, que mais parece um caldeirão com ondas de calor, suor e sofrimento. O diretor Mauro Lima afirmou em exibição especial seguida de debate, que a questão que os diferencia é a relativização que deve ser feita quanto aos motivos do consumo de drogas que neste filme é apresentado. Para ele, lançar uma visão diferenciada abre uma discussão em favor dos problemas relacionados ao consumo, enquanto o “Tropa” encerra a discussão apontando erros e culpados. Embalado com excelente trilha sonora o filme é muito engraçado. Todo o drama da alienação do protagonista é absorvido em altas doses de cocaína consumida nas festas dele. Ele trabalha no tráfico pra cheirar e

Reveilão em Sampa – parte 2

O dia mais feliz do ano. É assim sempre que o sentimento do dia 31 de dezembro tem que estar para quem vive neste mundo. E é assim que me senti ontem quando me vi com minha mulher dançando no meio da sala, muito longe dos quilômetros de praia com milhões de pessoas. Esse mesmo sentimento leva o paulistano a sair de Sampa, leva o drogado a procurar a mais louca das loucuras, e leva as pessoas a se abraçar chorando pensando talvez no ciclo anual que se fecha. Para os mais velhos a proximidade da morte que não pára nunca, para os mais novos a euforia de fazer parte da história do mundo. Achei de verdade que fosse me sentir mal no último minuto do dia, mas não rolou. O mais surpreendente foi justamente a mobilização para a queima de fogos. Algo que julguei estar por demais longe este ano. Aqui na Cohab o povo mais pobre e humilde é também o mais festeiro e feliz nessas datas. Quando saímos para ir numa praça conhecida como Morcegão, não estive perto da magia que estava por vir. Chegando no